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Edmundo no Flamengo: 30 anos da contratação que gerou expectativas e dívidas
Por Redação Flapress em 19/05/2025 15:20
A Chegada Triunfal e as Altas Expectativas
Em 1995, o Flamengo celebrava seu centenário, um marco que exigia uma transformação impactante. Em meio a um cenário financeiro instável, a diretoria respondeu com a ousada contratação de dois reforços de peso. Após a chegada de Romário, o clube apostou em Edmundo, no dia 19 de maio, há exatos 30 anos. "O Animal", como era conhecido, era um dos jogadores mais cobiçados do país.
Kleber Leite, então presidente do clube, relembra a estratégia por trás da contratação: "Nós tínhamos uma verba alocada, fruto de um desenvolvimento do Marketing, e havia uma discussão com relação à melhor aplicação. Se utilizaríamos para ajeitar um time, contratando três, quatro jogadores médios ou se contrataríamos o Edmundo, que era à época o melhor jogador em atividade no país. prevaleceu a segunda hipótese, até porque criava-se uma expectativa de um ataque fantástico. Além dele, o Romário e o Sávio. Assim foi decidido".
A expectativa era alta. No Rio de Janeiro, Edmundo se juntaria a Romário e Sávio para formar o "melhor ataque do mundo", como o trio rubro-negro era chamado na época. Vindo do Palmeiras, onde marcou 59 gols em 117 jogos desde 1993, Edmundo chegou ao Flamengo com o aval de Romário, mas também com a preocupação da diretoria em lidar com o temperamento da dupla.
O Temperamento Explosivo e os Primeiros Sinais de Alerta
A preocupação da diretoria se mostrou justificada. Em um clássico contra o Vasco, seu ex-clube, Edmundo protagonizou gestos obscenos direcionados à torcida rival, o que o levou a julgamento. Na Supercopa dos Campeões, em um jogo contra o Vélez Sarsfield, Edmundo se envolveu em uma confusão, agredindo o jogador Zandoná, o que resultou em uma briga generalizada.
Apesar dos incidentes, Romário apoiava a presença de Edmundo no time. Segundo Kleber Leite, "Em conversas informais, o Romário sempre foi amplamente favorável. Até porque tudo o que ele queria era gente que soubesse jogar bola do lado dele. Eles hoje reconhecem que a vaidade atrapalhou um pouquinho. É inerente ao ser humano, não há que culpar ninguém por isso. São momentos, mas não foi por isso (que não deu certo)".
No entanto, a passagem de Edmundo pelo Flamengo durou pouco. Ao final da temporada, após apenas nove gols em 23 jogos, incluindo amistosos, ele deixou o clube. O que teria acontecido para que o principal atacante do Brasil não tivesse sucesso no Flamengo ?
Lesão, Tragédia e o Fim Prematuro da Passagem
O ex-presidente Kleber Leite aponta alguns fatores que contribuíram para o fracasso da contratação: "Ele teve uma contusão muito séria, que demorou muito tempo para ele retornar e, infelizmente, aquele acidente na Lagoa. A única coisa que balançou, no aspecto humano, foi o acidente. Ali sentimos que não daria para continuar".
Em novembro, Edmundo fraturou o quinto metatarso do pé esquerdo em um choque com o zagueiro Gamarra. A previsão era de que ele voltasse a treinar em 45 dias. No entanto, o acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas, em dezembro de 1995, selou o destino de Edmundo no Flamengo .
No acidente, Edmundo foi considerado culpado pela morte de três pessoas e por lesões em outras três. Anos depois, foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão em regime semiaberto. Apesar de ter sido preso duas vezes, conseguiu habeas corpus. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal declarou a extinção da punibilidade devido à prescrição do crime.
A Decisão de Afastar o Jogador e o Empréstimo ao Corinthians
Após o acidente, a diretoria do Flamengo tomou a decisão de afastar Edmundo do clube. "Por uma orientação do departamento jurídico, nós entendemos que a melhor alternativa era tirá-lo do Rio de Janeiro. Assim ele foi emprestado para o Corinthians. Antes disso, em hipótese alguma pensávamos na saída dele. A confiança nele era muito grande", explicou Kleber Leite.
O Corinthians, que disputaria a Libertadores de 1996, pagou US$ 1 milhão pelo empréstimo de um ano, além de ceder o atacante Marques ao Flamengo . O fracasso do "melhor ataque do mundo" virou motivo de piada entre os rivais, com a torcida do Vasco criando uma música sobre o episódio.
O Legado Financeiro e as Lições Aprendidas
A contratação de Edmundo gerou uma dívida para o Flamengo . O clube pagou US$ 5 milhões pelo jogador, divididos em três parcelas, além de US$ 750 mil ao próprio Edmundo, com contrato até dezembro de 1996. A situação financeira do clube não era favorável, mas a expectativa era de que a contratação se pagasse.
Kleber Leite relembra as dificuldades da época: "Não havia dinheiro no caixa. Era um outro mundo. É difícil para os mais jovens fazerem uma comparação, porque é inviável. As ferramentas que se tem hoje não tínhamos há 30 anos. Mesmo assim, conseguimos uma operação".
Apesar do fracasso em campo, a contratação de Romário, no início daquele ano, havia impulsionado o número de sócios do clube. "Quando a gente encontrou o Flamengo , a situação era completamente distinta. A única alternativa era uma coisa impactante, que foi o Romário, para sacudir a torcida, para que ela participasse do processo. E olha que sem internet. O Flamengo saiu de seis mil para 40 mil sócios. Naturalmente, a contratação de Edmundo foi na expectativa ainda de um sopro nesse número. Infelizmente, algumas coisas aconteceram que nós não esperávamos e não funcionou. Nem sempre o que você imagina que vá ser uma coisa extraordinária acaba acontecendo", concluiu Kleber Leite.
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