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Cléber Xavier: "Estou pronto para tomar as decisões"
Por Redação Flapress em 15/11/2024 12:50
Cléber Xavier: "Estou pronto para tomar as decisões"
Após 24 anos ao lado de Tite, com uma bagagem de títulos e experiências em grandes clubes, Cléber Xavier, conhecido como Clebinho, decide seguir carreira solo. Em entrevista exclusiva ao Abre Aspas, ele revela os bastidores da decisão, reflete sobre a Copa do Catar, a demissão no Flamengo e o futuro do futebol brasileiro.
"A minha carreira é de 36 anos, né? Foram 12 anos antes de encontrá-lo no Grêmio, depois 24 anos a partir do Grêmio e até agora no Flamengo . Mas eu já vinha trabalhando um pouco na minha cabeça (a decisão), conversando com algumas pessoas do meu círculo mais íntimo, a ideia de tomar essa decisão. Apareceu em várias oportunidades para que eu conseguisse uma carreira solo, mas os projetos que a gente entrava eram muito bons. É muito difícil na cultura brasileira tu trabalhar muito tempo nos lugares. E a gente ficou nos últimos 17 anos trabalhando dois anos no Inter, seis anos no Corinthians, seis anos e meio na seleção e um ano no Flamengo . Faltou alguns dias para completar um ano no Flamengo . Então, 17 anos em quatro clubes, na verdade três clubes e uma seleção.", explica Cléber Xavier.
Cléber Xavier, que se prepara para assumir novos desafios, enfatiza que a decisão de se tornar técnico principal foi tomada após uma longa jornada ao lado de Tite, em que ele acumulou experiência e conhecimento em diversos clubes e na Seleção Brasileira. Ele reconhece a dificuldade de permanecer por longos períodos em um mesmo clube no futebol brasileiro, mas ressalta que a decisão foi tomada em conjunto com Tite, que compreendeu e apoiou sua decisão.
A nova fase de Cléber Xavier: desafios e expectativas
Aos 60 anos, Cléber Xavier se sente pronto para assumir novos desafios e liderar sua própria equipe. Ele ressalta que a experiência em grandes clubes e a forte relação com a base o preparam para essa nova fase. "Eu estou com 60 anos, tenho muito para dar ainda ao futebol. Tenho muitas experiências, passagens com trabalhos em grandes clubes e resolvi entrar no mercado, formar uma equipe de trabalho, estou me preparando para a hora que surgir essa oportunidade a gente abraçar. E ele (Tite) aceitou numa boa. Achou que era a hora de eu tomar a frente, tomar as decisões, ter a última palavra, que eu estava preparado para isso. E aí foi a decisão.", afirma Cléber Xavier.
Cléber Xavier explica que a parceria com Vinícius, auxiliar técnico do Corinthians na base, será crucial para a construção de sua equipe. Ele aposta em um trabalho em conjunto, com profissionais experientes e uma metodologia própria. "Eu não me sinto com 60 anos (risos), me sinto com energia. Me sinto ativo. Tenho na minha parceria que eu busco, que é o Vinícius, um menino que foi auxiliar técnico do Corinthians na base durante muitos anos e é um menino que também que tem um bom conteúdo, que tem muito boa oratória, que tem uma ativação muito forte para controle de treino, para trabalho e a gente fazer essa parceria com outros membros que possam formar esse time se assim for necessário. Porque a princípio a minha ideia sou eu e o Vinícius. Então me sinto nas melhores condições para seguir esse caminho. Futebol tem muito da minha cabeça também e a experiência por grandes clubes, por poder trabalhar com gente de alto nível e em todos esses clubes com a base que essa minha passagem anterior e a minha relação que eu tenho muito forte com a base nesses anos todos, ela me dá essa condição.", explica Cléber Xavier.
Cléber Xavier: "Um treinador que tenha o controle"
Cléber Xavier detalha seu estilo de treinador, enfatizando a importância da organização, da intensidade nos treinos e da busca por um futebol vertical. "Um treinador que tenha o controle, junto com o clube, ter uma unidade de comando junto com o clube, com a direção, com executivo de futebol, com departamento de futebol, num processo geral, com uma rotina bem trabalhada. Um treinador que vá para a campo fazer com que a gente treine de maneira concentrada, de maneira intensa, porque o futebol hoje está sendo jogado muito desse jeito. Eu também, dentro do meu pensamento de futebol, busco um futebol vertical. O futebol de pressionar alto. Um futebol agressivo no sentido ofensivo e agressivo no sentido defensivo, claro que flexível às situações em que eu vou encontrar.", afirma Cléber Xavier.
Cléber Xavier explica que a experiência na Seleção influenciou sua visão sobre a defesa, mas ele busca um equilíbrio entre defesa e ataque, com transições rápidas e uma estratégia defensiva bem definida. "Esse é o formato que veio mais a partir da Seleção, um pouco no Corinthians, quando a gente leva a rotina e a metodologia de treinamento do Corinthians para a Seleção e a gente divide uma comissão com muitos membros. Três, quatro auxiliares e a gente fazia essas divisões. Eu cuidava muito dessa parte, às vezes com Sylvinho, às vezes com o Carille no Corinthians, com o Matheus (Bachi, filho de Tite) também. Em determinados momentos trabalhei muito na parte ofensiva também. E as discussões internas, elas acontecem nos dois momentos do jogo (defensivo e ofensivo). Nos quatro momentos, na bola parada, a gente trabalha muito isso em conjunto, para a gente poder dividir melhor nesse sentido. Mas o entendimento e a ideia de jogo, ela permanece.", explica Cléber Xavier.
A Copa do Catar: análise e reflexões
Cléber Xavier faz uma análise detalhada da Copa do Catar, abordando a derrota para a Croácia e os desafios da Seleção Brasileira. Ele ressalta que a Seleção teve um bom desempenho na Copa, mas a eliminação para a Croácia foi um momento de frustração e aprendizado. "Eu falar pouco e vou ser mais direto. Porque geralmente é um assunto mais para definição do treinador principal. No meu entender, sobre o jogo contra a Croácia: é um time muito forte, que fica muito com a bola. A gente demorou um pouco no jogo para acertar a nossa pressão alta nesse jogo. Aí (depois que) conseguimos acertar e equilibrar, o primeiro tempo foi muito parelho. No segundo tempo nós fomos melhores, acertamos essa pressão, criamos série de oportunidades e levamos isso para a prorrogação. Esse momento bom. Conseguimos fazer o gol e, num momento de desatenção, de uma um erro de decisão, a gente acaba se expondo e tomando e tomando um gol. Não foi um erro de se especificar que "fulano errou ou o fulano..." Foi um erro geral. A gente se expôs e acaba tomando o gol. Então essa é análise mais simples e a maioria das coisas que a gente fez de preparação, a grande maioria como preparação e as coisas que a gente fez para o jogo, como o momento do jogo, para nós são coisas que a gente acertou.
Cléber Xavier ressalta a importância de entender o jogo como um processo dinâmico e que erros individuais podem ser consequência de fatores coletivos. Ele analisa o gol da Croácia, destacando que a sequência de eventos contribuiu para o gol, e não apenas erros individuais. "É que o gol ele é quebrado em muitos momentos. A bola vem, ela quebra de novo. O Pedro sai, joga essa bola na passagem do Fred. Aí tu vai dizer: ?mas é o segundo meio campista, não precisa sair?. Do lado esquerdo estavam passando o Rodrygo e o Neymar também. Era uma opção de jogar em dois jogadores que são atacantes e que poderiam definir o jogo. A bola vem, o Casemiro, ele podia até ser mais duro e fazer a falta, mas ele tenta limpar a jogada e a bola acaba rebatendo e passando. O atacante puxa uma diagonal. O Alex Sandro acompanha por dentro e na finalização a bola bate, desvia. Tem uma característica do Marquinhos e do Thiago Silva que eles são muito bons bloqueadores. E a gente no processo defensivo, nos nossos conceitos de jogo defensivo a gente usa muito bloqueio de cruzamento e finalização. E esses dois são mestres nisso. Só que naquele momento a bola bate, desvia. Então são várias quebras que não dá para se dizer que foram erros ou tomadas de decisões erradas. É do jogo, é do calor do jogo.", explica Cléber Xavier.
A importância da gestão humana e do trabalho em equipe
Cléber Xavier discute a importância da gestão humana no futebol, abordando a relação com os jogadores, a pressão por resultados e a necessidade de construir um ambiente de trabalho positivo. Ele ressalta que a gestão de pessoas é fundamental para o sucesso de um treinador. "Eu, particularmente, estou muito preparado para isso. Vivi, senti as dores das derrotas que a gente teve, senti muito, mas rapidamente eu já me recuperava e já estava como líder de um grupo de trabalho no dia seguinte, trabalhando e buscando reverter. O futebol não te dá tempo. Ainda mais quando tu tá num trabalho que ele não termina. No caso de trabalhos que finalizam, tu tem um tempo maior e aí define como tu vai fazer. Mas aqueles jogos que tu perdes e no dia seguinte já tens que estar no clube de novo, tu tem que chegar lá com toda tua força para levantar o processo. A gente tinha uma coisa muito legal que a gente fazia e é muito do Tite. Nos momentos que a gente estava muito em cima, com muito sucesso, no momento de vitória, ele reunia as pessoas que trabalhavam dentro do clube, todas as pessoas, da cozinha, o pessoal do campo, o pessoal da faxina, todos, todos, todos, sem exceção. Para acalmar e deixar a gente mais com os pés no chão. Num momento ruim, ele chamava todo mundo para levantar, para erguer a cabeça. Essa gestão de pessoas que ele tem, que eu tenho, é muito forte no nosso trabalho. A nossa relação com quem trabalha, com a gente, em todos, é muito de respeito, é muito de valorizar e muito de dar voz às pessoas e muito de reconhecer o esforço das pessoas.", explica Cléber Xavier.
Cléber Xavier ressalta que a experiência com Tite o ensinou a lidar com a pressão do futebol e a construir um ambiente de trabalho positivo, com respeito e valorização de todos os profissionais. Ele acredita que essa experiência será fundamental para o sucesso em sua nova fase como técnico principal. "Eu sou um cara muito adaptável e de uma relação, de uma gestão pessoal muito, muito clara, muito franca, muito, muito honesta. E tem esse entendimento, a gente no trabalho, nesses 17 anos que a gente tem, a gente trabalhou com todos os níveis de atletas, mesmo em equipes grandes. A gente trabalhou com o nível de atleta médio, trabalhou com meninos da base, a gente lançou muitos atletas, a gente desenvolveu muitos atletas, a gente desenvolveu atletas que faziam uma função, a gente trabalhou para que esse atleta fizesse mais de uma função e são eles os exemplos existentes disso. Então, estou me preparando junto com o Vinicius, com o meu auxiliar, estudando bastante, assistindo a todos os jogos para onde tiver essa oportunidade e for um trabalho sólido, como eu digo, consistente de um clube consistente. Hoje tem muitos clubes na Série B com essa consistência. Tem clubes na Série C, com essa consistência também. Então a gente está preparado.", afirma Cléber Xavier.
O futuro do futebol brasileiro: desafios e oportunidades
Cléber Xavier analisa o cenário atual do futebol brasileiro, destacando a evolução do mercado, a ascensão de novas gerações de profissionais e os desafios para a Seleção Brasileira. Ele ressalta que o futebol brasileiro tem uma grande riqueza de talentos, mas ainda precisa superar alguns obstáculos para se tornar uma potência global. "Não sei, mas vou fazer uma avaliação rápida. O Bento surgiu como um goleiro. Nós tínhamos só um goleiro no Brasil dando resposta boa, que era o Weverton. Surgiu o Bento, hoje tem dois goleiros. O Arana estava pronto para ir pra Copa, mas teve aquela lesão. Ele continua ali. Surge um volante com característica diferente, que é o André, ou o João Gomes. Eles rapidamente já foram para Europa, mas estavam neste mercado. Tem o Igor Jesus, que é uma grande descoberta, está jogando muito e está aqui no Brasil. O Luiz Henrique já esteve lá fora e eu conheço o Luiz desde a época da base, sempre foi um grande jogador. E agora o Estevão, então não muda muito isso. O Brasil sempre teve bons jogadores, tanto aqui quanto lá. Tem muito a questão de grandes jogos, de grandes enfrentamentos, enfrentamentos com jogadores num nível maior. Isso cria no jogador uma casca maior, cria no jogador uma qualidade maior, um entendimento maior do jogo. Eu vejo muito isso.", explica Cléber Xavier.
Cléber Xavier ressalta que o futebol brasileiro precisa investir em uma melhor preparação de seus treinadores e em um maior apoio à formação de profissionais de alto nível. "Um pouco pela língua, um pouco pela demora de ter um estudo mais qualificado na preparação. Então tu vê a escola portuguesa, que é muito bem preparada a partir de uma escola que vem da Universidade do Porto. Ou a escola argentina. São muitos jogadores que trabalharam muito tempo na Europa e que se prepararam para ir lá, e também tem um pouco de facilidade de língua. E a escola do Brasil, historicamente nossos grandes treinadores não conseguiram ter um espaço. Não é de agora isso. Eles não conseguiram ter um espaço maior lá fora. Eu acho que o cara que mais conquistou alguma coisa lá fora foi o Felipão com o Portugal. A CBF abriu um grupo de estudo criado pelo Maurício Marques e pelo professor Osvaldo, há muito tempo atrás. Teve uma evolução muito grande, mas ela poderia ir muito mais longe do que ela é. A CBF poderia dar muito mais para preparar melhor os treinadores. Eu fiz as duas licenças, eu fiz a licença A, fiz a licença Pro. O Vini que trabalha comigo fez a licença C, a licença B, a A e a Pro. A gente aprendeu muitas coisas, mas a gente aprende muitas coisas também nas relações, no dia a dia com esses treinadores que estão ali, nas aulas, nos trabalhos que a gente te faz em conjunto. Eu acho que o maior problema é criar um processo, que já deveria ter sido criado há mais tempo, de estudo melhor. E a dificuldade da língua também.", explica Cléber Xavier.
O legado de Cléber Xavier e a busca por novos desafios
Cléber Xavier reflete sobre sua trajetória no futebol, destacando a importância da aprendizagem contínua e da busca por novos desafios. Ele demonstra entusiasmo e confiança em sua nova fase como técnico principal, e garante que está preparado para os desafios que o esperam. " (A rotina) é de estudo. Eu dei uma atenção à família quando terminou o trabalho no Flamengo e já comecei a me preparar para escolher o profissional que vai trabalhar comigo, e outros que possam vir a trabalhar depois. Trocar ideia e fazer reuniões por vídeo, para a gente poder discutir metodologia, ideias, conceitos e treinamento. E isso é uma coisa que a gente tinha na CBF, as portas abertas para receber ex-atletas, treinadores e o pessoal da imprensa para discutir futebol. Eu continuo fazendo isso, num café, num almoço, ou uma troca por telefone com muitos profissionais que já trabalharam comigo e hoje são treinadores. Ainda não saí para fazer uma visita em alguns clubes, que é uma questão que eu pretendo também. Só que o espaço também está muito curto, porque agora parece que o calendário já vai começar em janeiro, vai ser mais achatado ainda. Então eu estou usando muito isso para estudar, assistir jogos, separar lances de jogos, discutir lances de jogos. Tem um material muito farto. Eu sempre digo isso. Tem muita gente boa nessa juventude postando coisas interessantes, discussões interessantes, matérias interessantes. Isso nos faz ou confirmar o que a gente pensa ou aprender aquilo que a gente não sabe.", explica Cléber Xavier.
Cléber Xavier conclui a entrevista com uma mensagem de esperança e otimismo para o futuro do futebol brasileiro, e ressalta que está ansioso para começar sua nova jornada como técnico principal. "É tentador assistir um jogo pensando que decisões você tomaria? Ou você prefere ver o jogo tentando entender os mecanismos que quem está ali, tomando decisão, usou? As duas coisas. Não tem como separar. Uma hora você vê o treinador fazer uma modificação e pensa: ?por que não fez isso?? Mas eu também, por ser um profissional e por ter vivido muito isso, às vezes a gente entende este processo de tomada de decisão. São 24 anos em futebol de elite, 24 anos tomando decisões ou auxiliando o treinador a tomar decisões direto. Até 2012, a gente usava a comunicação pelo radinho. Depois de 2012, a gente podia ficar sentado no banco. Então a crítica não pode ser solta, porque teve uma semana de treino, teve a preparação, estratégia para o jogo, teve o pré-jogo, teve a palestra, teve a ideia que se leva para aquele jogo, tem os jogadores chaves dentro do campo que vão te ajudar com tomadas de decisão. Tem uma série de coisas que a gente tem que levar em conta. ", finaliza Cléber Xavier.
Cléber Xavier deixa claro que está pronto para liderar sua própria equipe e construir um novo capítulo em sua carreira. Ele está ansioso para colocar em prática todo o conhecimento e experiência adquiridos ao longo de sua jornada no futebol. Sua história de sucesso ao lado de Tite o prepara para enfrentar os desafios da nova fase, e sua paixão pelo futebol o impulsiona a seguir em frente. "Estou pronto para tomar as decisões.", conclui Cléber Xavier.
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