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Flamengo Feminino: Maracanã Longe? Entenda os Motivos do Dirigente Rubro-Negro

Por Redação Flapress em 08/08/2025 11:10

A jornada do Flamengo no Campeonato Brasileiro Feminino de 2023 traz à tona um debate persistente: a escolha dos palcos para suas partidas decisivas. Com a fase de quartas de final, o regulamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) impõe que os estádios possuam capacidade mínima de dez mil espectadores. Tal exigência, em vigor desde o ano passado, visa primordialmente aprimorar a infraestrutura para a utilização do VAR, que se tornou compulsório a partir desta etapa desde 2020.

Em virtude dessa normativa, o Rubro-Negro se viu obrigado a deslocar seu confronto contra o Palmeiras para fora da capital fluminense. A praça esportiva selecionada, que se alinha aos critérios estabelecidos, é o Estádio Raulino de Oliveira, localizado em Volta Redonda. André Rocha, gerente de futebol feminino do clube, abordou a deliberação sobre o local da próxima fase e explicou a razão pela qual um jogo tão crucial da equipe não será disputado no Maracanã, o principal estádio do Rio de Janeiro.

O Dilema do Estádio: Por Que Volta Redonda?

Rocha detalhou os entraves que impedem o uso do Maracanã, focando nas especificidades e desafios do futebol feminino. Ele ressaltou a importância de compreender a dinâmica de público da modalidade.

- A questão toda de Maracanã, a gente precisa entender, são as demandas do futebol feminino. Fiz uma reunião na CBF com o Júlio (Avelar) e mostrei para ele todos os números. E é claro que o futebol feminino, até o regulamento, precisa ser alterado. O futebol feminino, a gente não tem uma demanda de público para 10 mil lugares. Então, esse é o motivo, primeiro, para gente estar indo para Volta Redonda. Porque no Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, estádios com laudo para 10 mil pessoas, tirando São Januário, Engenhão, Maracanã, a gente só tem lá. Então, esse é o motivo da gente estar jogando lá e ainda deixando o jogo dentro do estado do Rio de Janeiro. Porque as outras opções já eram fora do estado do Rio de Janeiro, ir para Minas, Espírito Santo, Cariacica, Brasília. Então a gente teria que sair do estado. A gente tentou manter o jogo dentro do estado do Rio de Janeiro, mas é uma deficiência de estádios do Rio de Janeiro. A gente sabe que falta laudo em alguns estádios que até teriam capacidade, mas não têm laudo. E entender a demanda de público, porque o público no futebol feminino, ele é sazonal. Ele não é um público recorrente. Ele é sazonal nos grandes jogos e nas grandes decisões. Então a gente sabe que a gente precisa criar identidade com o público, fixar no local. Isso tudo você vai gerando fidelidade do público. Mas para isso a gente precisa de alguns ajustes e esses ajustes têm a questão de regulamento. Jogar na Gávea, como foi feito agora o jogo do Bayern contra o sub-20 masculino, que todo mundo acompanhou a estrutura pela TV, a estrutura ficou magnífica. A gente não conseguiu fazer no feminino, também com questões de regulamento não permitia arquibancada móvel. Então o regulamento da CBF também não permite. A gente também já pensou nessa possibilidade de utilizar a mesma estrutura para trazer o jogo para dentro de casa, mas também por questões de regulamento a gente ficou preso e a gente fez essa transferência - afirmou o dirigente.

A declaração evidencia a escassez de estádios no estado do Rio de Janeiro que atendam aos requisitos de capacidade e laudos necessários, forçando o clube a buscar alternativas dentro da própria federação, mas fora da capital, para evitar deslocamentos ainda maiores.

Maracanã: Um Palco para o Futuro ou um Risco Imediato?

Ainda sobre a possibilidade de utilizar o Maracanã, André Rocha ponderou sobre os custos operacionais e a percepção pública. Ele enfatizou a necessidade de um planejamento minucioso para evitar impactos negativos duradouros na imagem da modalidade.

- A questão do Maracanã vem em cima de tudo que a gente vem trabalhando. Você vai ter um público, se você abre um jogo para o Maracanã e você não atinge a perspectiva de público, você pode fechar a porta do Maracanã o resto da vida. Então a gente tem que entender o momento para se fazer um jogo no Maracanã, porque esse jogo precisa ser perfeito, porque tudo que a maioria das pessoas que a gente sabe que é contra o futebol feminino querem é trabalhar em cima do seu erro, da sua avaliação. Então se você der uma oportunidade de fazer um evento no Maracanã e esse evento não atingir o que você espera, para você repetir esse evento as pessoas vão gerar muito mais dificuldade. Então a gente precisa ter muita calma e muita tranquilidade. A gente fala em levar um jogo no Maracanã e além das questões de custos, a gente entra na questão também da CBF, que é a despesa de custos de operação de jogo, uma operação de jogo no Maracanã é um valor bem maior do que o que a CBF repassa aos clubes, porque o futebol feminino já é deficitário também na maioria dos clubes do país, então a gente não pode aumentar a conta negativa. Nós sempre trabalhamos para o negativo virar positivo. Então se a gente leva também o jogo para o Maracanã com o apoio que a gente tem hoje da organizadora do campeonato para fazer o jogo, também a gente acaba aumentando o negativo e é um ponto atrás também para o nosso esporte - declarou.

A preocupação do dirigente reflete um receio legítimo de que uma eventual baixa adesão de público em um palco tão emblemático possa ser utilizada para descreditar o potencial do futebol feminino, além de agravar a situação financeira, já que os custos de operação no Maracanã superam significativamente o repasse da CBF, contribuindo para o déficit inerente à modalidade na maioria dos clubes brasileiros.

A Visão da CBF e o Caminho para a Profissionalização

A CBF, por sua vez, justificou a exigência de dez mil espectadores a partir das quartas de final, argumentando que a medida visa "fortalecer a estrutura da competição e consolidar um crescimento técnico e institucional". A entidade acrescentou que a decisão é "uma medida estratégica adotada para garantir que as fases decisivas do torneio ocorram em estádios com condições adequadas de recepção de público, imprensa e transmissão".

A confederação afirmou que a definição desse critério considera a valorização do espetáculo, a qualidade de transmissão e mídia, a padronização e isonomia, e o incentivo à profissionalização dos clubes, buscando que as equipes utilizem suas arenas principais para projetar o futebol feminino em praças esportivas de maior visibilidade.

Sobre as cotas destinadas aos clubes para a realização dos jogos, a entidade asseverou sua compreensão do papel no desenvolvimento da modalidade, enumerando o suporte concedido às competições femininas.

- A CBF entende sua responsabilidade no impulsionamento e desenvolvimento do futebol feminino brasileiro e segue contando com o apoio e o envolvimento das Federações Estaduais, bem como dos clubes filiados. Além da premiação e da organização técnica, a CBF arca integralmente com os custos logísticos das equipes participantes, incluindo transporte e hospedagem, em todas as competições femininas: Supercopa Feminina, Copa do Brasil Feminina, Brasileiro Feminino A1, A2 e A3, além dos Brasileiros Feminino Sub-20 e Sub-17. Esse suporte é essencial para garantir a competitividade e a equidade entre os clubes, especialmente os de menor estrutura, evidenciando o esforço da entidade em democratizar o acesso ao futebol feminino de alto rendimento.

O Futuro do Futebol Feminino Rubro-Negro: Desafios e Perspectivas

Em relação aos locais de jogo futuros, o Flamengo mantém o planejamento de construir um miniestádio no Ninho do Urubu, com a intenção de utilizá-lo posteriormente. Atualmente, no Campeonato Estadual, a equipe tem disputado algumas partidas na Gávea.

- O Estadual a gente já joga na Gávea. O Estadual a gente consegue manter os jogos na Gávea com o público. É porque a exigência de regulamento mesmo é um pouco diferente. A CBF flexibilizou, diminuiu esse ano e a gente está com um projeto já bem adiantado de fazer o miniestádio no Ninho. É bem próximo de onde a gente está aqui. A gente vai fazer esse mini estádio, esse mini estádio serviria para a gente jogar também. Então ali seriam todos os nossos jogos, no mini estádio. Hoje também a gente tem um dificultador porque a gente não faz mais jogos também na Gávea por causa da transmissão. Na Gávea também a gente não tem os refletores, a maior parte dos nossos jogos são transmitidos e a gente acaba tendo que sair para a Ilha (estádio Luso Brasileiro). E mesmo a gente fixando como ponto na Ilha a gente não tem uma fidelidade de torcedores. Por isso que a questão de fidelidade de torcedores é uma questão de anos. Não adianta, não vai ter uma campanha milagrosa. Potencial tem. A maior torcida do Brasil - afirmou André Rocha.

A fala de Rocha sublinha a complexidade de estabelecer uma base de torcedores fiel, um processo que demanda tempo e constância. Apesar do imenso potencial da maior torcida do Brasil, a construção dessa identidade com o futebol feminino é um trabalho de longo prazo, impactado também por questões estruturais como a iluminação dos estádios para transmissões televisivas.

Flamengo e Palmeiras iniciarão a disputa por uma vaga nas semifinais do Campeonato Brasileiro feminino neste domingo, às 10h30, com transmissão da TV Globo e Sportv. O confronto de volta está agendado para 17 de agosto, também às 10h30, na Arena Barueri.

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Comentado em 08/08/2025 15:50 Miniestádio no Ninho vai ser brabo, confio!
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Comentado em 08/08/2025 14:20 Mano, jogar longe do Maraca é ruim, mas se é pra garantir VAR e tudo, suave demais kkkk.
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Comentado em 08/08/2025 12:41 Volta Redonda é longe, mas tamo junto!
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