Flamengo e a Base: Entenda as Razões por Trás das Saídas de Lorran, Matheus Gonçalves e Shola

A categoria de base do Flamengo, historicamente um celeiro de futuros craques, testemunhou recentemente um movimento significativo de saída, com três de seus principais prospectos deixando o clube. Esta série de transferências, envolvendo o meia Lorran, o atacante Shola e o meia-atacante Matheus Gonçalves, sinaliza uma potencial reorientação na filosofia do clube em relação aos seus jovens talentos. Uma análise aprofundada dessas decisões revela um complexo entrelaçamento de adequação tática, conforto do jogador e estratégia financeira.

Entre os jovens atletas que buscaram novos ares, Lorran é o único que mantém vínculo com o Rubro-Negro, partindo para um empréstimo de um ano ao Pisa, da Itália. A transação envolveu 500 mil euros, com uma opção de compra futura fixada em 4 milhões de euros por 50% dos direitos econômicos. O diretor da base do Flamengo , Alfredo Almeida, expressou otimismo quanto a essa movimentação, enfatizando o potencial transformador da mudança de ambiente.

Almeida acredita firmemente que a saída da "zona de conforto" é um catalisador para o crescimento.

Eu acredito que tu saíres da tua zona de conforto muitas vezes pode te ajudar. E ele acabou de sair da zona de conforto dele. Ele agora está na Itália, e vamos ver. Porque pode ser que, saindo da zona de conforto dele, ele mostre algumas coisas que todo mundo já dizia que ele não tinha, ou que ele tinha demais. Eu quero muito que dê certo, não quero ouvir daqui a 20 anos: "Tinha um menino 20 anos atrás no Flamengo que era o Lorran que era um craque". Nós ouvimos isso todos os dias. Acho que agora vai ficar fora dessa zona de conforto: Flamengo há muitos anos, cidade dele... É opção (de compra), tem alguns gatilhos que tem que atingir para a opção ser realmente efetivada. Mas isso, a mim, é o que menos interessa nesse momento. Queria vê-lo num contexto diferente. Acredito que está motivado, que vai com toda vontade de querer mostrar a sua parte, que tem capacidade. Vai dar certo.

declarou o diretor, sugerindo que o novo cenário pode revelar facetas do jogo de Lorran que talvez estivessem latentes. A expectativa é que o meia demonstre qualidades que antes eram questionadas ou superadas, evitando o lamento futuro de um talento não plenamente explorado.

A Lógica Tática por Trás da Saída de Shola

A partida de Shola para o Dínamo Kiev, na Rússia, sem custos de transferência imediata, mas com o Flamengo mantendo 50% dos direitos futuros, levanta questões sobre o perfil de jogador que o clube busca para seu elenco principal. A entrevista com Alfredo Almeida, concedida antes da oficialização, já indicava a direção da decisão, focando nas características do atacante e na visão tática do clube.

Almeida foi direto ao explicar a liberação, utilizando uma analogia clara:

Tu podes ter a melhor colheita de maçãs do mundo, mas se aquilo que queremos são peras... As características do Shola, e o futebol profissional hoje, dentro de uma linha em que o treinador principal é o Filipe Luís, uma linha que o clube quer, e o futebol do Shola. Não estamos a dizer que um é horrível ou outro é perfeito, ou vice-versa.

A declaração sugere uma incompatibilidade entre o estilo de jogo de Shola e a abordagem tática que o Flamengo, sob a batuta de Filipe Luís, pretende implementar ou já adota.

Bruno Pivetti, técnico do sub-20, complementou a análise, oferecendo uma perspectiva mais detalhada sobre o perfil de Shola.

O Shola é essencialmente um jogador de espaço. Então para um jogador desse tipo ter espaço para desenvolver a velocidade dele, geralmente a equipe tende a adotar um futebol mais reativo, um desenvolvimento de bloco médio para baixo porque aí, na recuperação da bola, você tem espaço para atacar em velocidade. O Shola nesses espaços é fenomenal. No segundo tempo contra o Barcelona nossas melhores oportunidades foram conquistadas com bolas alçadas no corredor esquerdo com ele.

explicou Pivetti. Ele citou o desempenho do atacante contra o Barcelona no Intercontinental Sub-20 como exemplo, onde suas incursões pelo corredor esquerdo foram cruciais em um jogo que permitia mais transições.

Contudo, o cenário no time principal é outro. A diretriz macro do Flamengo profissional, segundo Pivetti, envolve jogar majoritariamente no campo adversário, exigindo a capacidade de "furar os bloqueios." Para essa demanda, as características ideais são de atletas que prosperam em "espaços mais apertados, curtos," um nicho onde o clube já se considera "muito bem servido de jogador." Essa análise tática rigorosa ilustra a preferência por um tipo específico de atacante, mesmo que isso signifique abrir mão de um talento promissor com um perfil distinto.

Matheus Gonçalves: O Dilema das Oportunidades e o Retorno Financeiro

A negociação de Matheus Gonçalves para o Al Ahli, da Arábia Saudita, por 8 milhões de euros, equivalentes a R$ 50,5 milhões, representa a mais vultosa das três saídas. Este movimento, que se alinha a uma "reformulação no sub-20 do Flamengo ," conforme apontado por análises recentes, coloca em evidência a complexidade de gerir jovens talentos em um elenco de alto nível.

Alfredo Almeida abordou a situação de Matheus Gonçalves , revelando um desconforto do próprio jogador com a falta de chances no time principal.

O próprio Matheus Gonçalves não estava confortável, na opinião dele, pela falta de oportunidades na equipe profissional. Ele teve oportunidades. Muitas vezes a pergunta que eu faço quando questionam por que o Matheus Gonçalves não joga mais? "Tiras quem"? O elenco é tão recheado, tão bom, tão qualificado...

A reflexão de Almeida sugere que, em outros contextos históricos do Flamengo, a janela de oportunidades para jogadores como Matheus e Lorran poderia ter sido mais ampla.

Apesar do talento reconhecido de Matheus Gonçalves , a decisão de sua venda foi considerada benéfica para todas as partes envolvidas.

É um achismo meu, mas se calhar esse Lorran e esse Matheus Gonçalves, em outros Flamengos, outras alturas, se calhar era outra janela de oportunidades que podia haver, outro tipo de elenco, outra forma de jogar... Não quer dizer que não tenham talento. Matheus Gonçalves tem talento. Se calhar vai ser bom para todas as partes: parte financeira para o Flamengo, para o Matheus Gonçalves e para quem o agencia que tem uma oportunidade de valorizar mais. A nível de negócio foi bom para todos, acima de tudo para o Matheus. Acho que ele vai ser feliz onde está.

ponderou Almeida. Ele concluiu que, do ponto de vista financeiro, a transação foi vantajosa para o Flamengo, para o próprio atleta e para seus agentes, abrindo caminho para uma maior valorização.

Um Novo Horizonte para a Base Rubro-Negra?

As recentes movimentações no elenco de base do Flamengo , detalhadas pelo diretor Alfredo Almeida, pintam um quadro claro de uma abordagem mais pragmática e alinhada às necessidades do futebol profissional contemporâneo. A gestão de talentos jovens, em um clube com um elenco principal tão robusto, exige decisões difíceis, que equilibram o desenvolvimento do atleta, a adequação tática e a saúde financeira.

Jogador	Destino	Condição	Valores (Flamengo)
Matheus Gonçalves	Al Ahli (Arábia Saudita)	Venda	8 milhões de euros (R$ 50,5 milhões)
Lorran	Pisa (Itália)	Empréstimo (1 ano) com opção de compra	500 mil euros (empréstimo); Opção de 4 milhões de euros por 50%
Shola	Dínamo Kiev (Rússia)	Liberação gratuita	Manutenção de 50% dos direitos futuros

A saída desses três nomes, cada um por razões distintas, reforça a ideia de que a Gávea busca não apenas formar atletas, mas também moldá-los para um sistema específico, ou, alternativamente, capitalizar sobre seu valor de mercado quando a integração direta se mostra desafiadora. O futuro dirá se essa estratégia de "saída da zona de conforto" e alinhamento tático renderá os frutos esperados, tanto em campo quanto nas finanças do clube.