Flamengo Desiste de Processo Contra ESPN e Gian Oddi: O Fim de um Capítulo

Após um embate legal que se estendeu por mais de quatro anos, o Clube de Regatas do Flamengo optou por retirar-se do processo judicial que movia contra o comentarista Gian Oddi e a emissora ESPN. A decisão, tomada sob a nova liderança do clube, sinaliza uma mudança de postura institucional, encerrando um capítulo polêmico que teve início em um dos momentos mais delicados da saúde pública global.

O Fim de um Capítulo Judicial Controverso

O encerramento definitivo da ação judicial representa o fim de uma disputa que se arrastava desde 2020. A medida partiu da atual presidência do clube, liderada por Bap, e foi efetivada em janeiro deste ano, logo após sua ascensão ao comando da instituição. Conforme apurado, a decisão de desistência do Flamengo foi motivada pela derrota da ação em segunda instância no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, onde o entendimento foi favorável a Gian Oddi e à ESPN, revertendo uma vitória inicial que o clube e seus então dirigentes haviam obtido na primeira instância.

A Gênese da Controvérsia: Palavras que Geraram Processo

A controvérsia teve sua gênese em março de 2020, em meio à eclosão da pandemia de Covid-19, quando o Flamengo se posicionou de forma veementemente contrária à paralisação do Campeonato Carioca. Foi nesse contexto que o comentarista Gian Oddi, durante um programa da ESPN, proferiu as declarações que se tornariam o cerne da disputa judicial. Oddi classificou a diretoria rubro-negra como "desumana", expressando preocupações com a saúde pública e a integridade dos envolvidos nos jogos, em um claro contraste com a percepção de um foco excessivo em interesses financeiros por parte do clube.

"Nada justifica a postura desses dirigentes de tentarem manter os jogos do Campeonato Carioca, porque eles sabem muito bem quais seriam as consequências. É uma diretoria desumana. Já se mostrou uma diretoria desumana no caso dos garotos do Ninho, e volta a se mostrar uma diretoria desumana, que pensa em dinheiro, em tabela de Excel".

Essa citação de Oddi, de forte teor, foi o ponto de partida para a acusação de danos morais, com a solicitação de uma indenização de R$ 45 mil por parte dos autores da ação.

A Trajetória Legal e Suas Reviravoltas

A jornada judicial do caso foi marcada por reviravoltas significativas. Inicialmente, a Justiça havia acatado o pedido de indenização, proferindo uma decisão favorável ao Flamengo e aos seus ex-dirigentes. No entanto, essa deliberação foi posteriormente revertida em segunda instância, onde o entendimento da corte favoreceu o jornalista e a emissora, defendendo a liberdade de expressão. Apesar da derrota, o Flamengo e os demais autores chegaram a apresentar recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), indicando a intenção de prosseguir com o litígio, mas decidiram encerrar o processo antes de uma nova deliberação.

A Postura da Nova Gestão e o Desfecho Final

Além do clube, o então presidente Rodolfo Landim e o ex-vice-presidente jurídico Rodrigo Dunshee de Abranches também figuravam como autores da ação. Ambos, mesmo após a retirada oficial do Flamengo em janeiro, decidiram seguir com o processo individualmente. Contudo, ao final de maio, Landim e Dunshee também optaram por desistir definitivamente da disputa judicial, pondo um ponto final na saga que se estendeu por mais de quatro anos.

A condução atual do clube, sob a presidência de Bap, preferiu não prolongar o embate judicial, sinalizando uma mudança de prioridades institucionais. A orientação da nova gestão parece ter sido pautada, primordialmente, pela intenção de encerrar desgastes vinculados à administração anterior e focar em uma imagem institucional mais coesa.

Implicações e Reflexões do Encerramento

O encerramento deste processo, que não resultou em qualquer retratação pública por parte do jornalista ou da emissora, representa o fim de um período de intensa controvérsia para o Flamengo . O caso, que se arrastou desde o início da pandemia, não apenas sublinha a sensibilidade das declarações públicas em momentos de grande adversidade, mas também reflete as complexas dinâmicas políticas e as transições de poder dentro das grandes agremiações esportivas. A resolução final do litígio, portanto, transcende a esfera jurídica, oferecendo um vislumbre das mudanças de postura institucional e das prioridades de uma nova liderança no cenário esportivo brasileiro.