Carrascal no Flamengo: O Desafio dos Colombianos na Gávea

A chegada de Jorge Carrascal ao Flamengo, com um investimento de 12 milhões de euros (aproximadamente R$ 77,5 milhões na cotação atual) ao Dínamo Moscou, posiciona o talentoso meia de 27 anos como o oitavo atleta colombiano a vestir o Manto Sagrado. No entanto, sua trajetória no clube carioca inicia-se sob uma pesada sombra: a de uma história que, para seus compatriotas, raramente culminou em sucesso duradouro, com uma única exceção notável.

Enquanto diversos nomes colombianos como Rincón, Aristizábal, Asprilla, Rentería, Yerry Mina e Arias construíram carreiras vitoriosas e memoráveis em outros clubes do futebol brasileiro, o cenário no Rubro-Negro apresenta um contraste marcante. O time da Gávea, que intensificou a contratação de jogadores do país vizinho na última década, agora deposita suas expectativas em Carrascal, um integrante da seleção colombiana, para reverter esse padrão e, quem sabe, escrever um capítulo diferente.

A Trajetória dos Colombianos no Ninho: Um Panorama Histórico

A seguir, uma visão detalhada da passagem dos sete colombianos que antecederam Carrascal na Gávea, evidenciando os desafios e o sucesso singular de um deles.

Foto: (Reprodução/Instagram)

Os Desafios e as Oportunidades de Cada Colombiano

O primeiro colombiano a aterrissar no Flamengo foi Cristian Borja, em 2010. Sua passagem, contudo, foi efêmera e sem brilho. Contratado por empréstimo junto ao Caxias-RS, o primo do atacante Rentería disputou apenas sete partidas, sem balançar as redes, e acabou sendo marginalizado, inclusive atuando pelo time sub-23 antes de ter seu contrato rescindido. Anos depois, de forma irônica, ele se tornaria um algoz ao marcar duas vezes contra o Rubro-Negro defendendo a camisa da LDU. Atualmente, aos 37 anos, Borja continua em atividade pelo Rionegro Águilas, na Colômbia.

Cinco anos mais tarde, em 2015, o lateral-esquerdo Armero chegou à Gávea, emprestado pela Udinese, da Itália. Diferentemente de Borja, Armero já era um nome conhecido, com passagens pela seleção colombiana e um período de sucesso no Palmeiras em 2009. No Flamengo , ele recebeu a camisa 2, eternizada pelo ídolo Léo Moura, mas não conseguiu sequer se aproximar do desempenho esperado. Com apenas cinco jogos e duas assistências, Armero não se consolidou no elenco e não conquistou títulos. Hoje, aos 38 anos, o ex-lateral já encerrou sua carreira profissional.

Cuéllar: A Exceção que Confirma a Regra

Foi em 2016 que o Flamengo acertou a contratação de Gustavo Cuéllar, um volante adquirido do Deportivo Cali por cerca de R$ 8 milhões. Cuéllar rapidamente conquistou a torcida com sua dedicação e garra em campo. Em quatro anos, ele disputou 171 partidas, marcando dois gols, e foi uma peça fundamental no "time mágico" de 2019, que alcançou a tríplice coroa com os títulos da Libertadores, do Campeonato Brasileiro e do Campeonato Carioca. Ele também contribuiu para a conquista de outro estadual em 2017.

Apesar do sucesso, sua saída foi marcada por controvérsias, incluindo um afastamento temporário após o jogador se recusar a viajar para um jogo do Campeonato Brasileiro em meio a negociações. Reintegrado, foi posteriormente vendido ao Al-Hilal, da Arábia Saudita, por 7,5 milhões de euros (R$ 34 milhões na cotação da época). Atualmente com 32 anos, Cuéllar defende o Grêmio.

De Berrío a Richard Ríos: Tentativas e Desilusões

Em 2017, a aposta recaiu sobre o atacante Orlando Berrío, que se destacava no Atlético Nacional e também integrava a seleção colombiana. Comprado por US$ 3,5 milhões (R$ 11 milhões), Berrío era conhecido por sua força física e velocidade. Embora tenha vivido alguns bons momentos, nunca foi uma unanimidade entre os torcedores. Como reserva do elenco multicampeão de 2019, ele participou de 82 jogos e marcou sete gols em quatro anos, acumulando cinco títulos: os Cariocas de 2017, 2019 e 2020, além da Libertadores e do Brasileiro de 2019. Fora dos planos em 2020, foi liberado sem custos para o Khor Fakkan, dos Emirados Árabes. Atualmente com 34 anos, Berrío encontra-se sem clube.

A primeira contratação do Flamengo em 2018 foi Marlos Moreno, que gerou grande expectativa, mas acabou se revelando uma das maiores decepções. O atacante, emprestado pelo Manchester City, encerrou um jejum de dois anos sem gols no Rubro-Negro, mas aquele foi seu único gol em 36 partidas. Sua passagem foi frequentemente descrita por aqueles que a acompanharam de perto como marcada por "muita marra e pouco futebol". Ao final da temporada, sem espaço, transferiu-se para o Santos Laguna, do México. Hoje, aos 28 anos, Moreno joga pelo Tenerife, na Espanha.

O Ciclo Final de Experiências Antes de Carrascal

Ainda em 2018, o Flamengo buscou o centroavante Fernando Uribe, destaque do Toluca, do México. Uribe chegou sem custos, com a responsabilidade de substituir Paolo Guerrero, mas não obteve o sucesso esperado. Em pouco mais de um ano, disputou 39 jogos e marcou 10 gols, participando das campanhas dos títulos do Carioca e da Libertadores de 2019 como reserva. Sua maior contribuição, talvez, tenha sido indireta: sua venda ao Santos por R$ 6 milhões foi parte da transação que trouxe Bruno Henrique para o Flamengo . Atualmente com 37 anos, Uribe já está aposentado.

Antes da iminente chegada de Carrascal, o último colombiano a vestir a camisa rubro-negra foi Richard Ríos. Sua história é peculiar: o volante chamou a atenção no futsal e foi incorporado ao Ninho do Urubu para ser desenvolvido no campo. Ganhando destaque nas categorias de base, estreou no profissional em 2020, em uma partida contra o Palmeiras, devido a um surto de Covid-19 que forçou o Flamengo a escalar um time de jovens. Contudo, não teve muitas oportunidades, somando apenas sete jogos no total, e participou das campanhas dos títulos do Carioca de 2020 e 2021, e do Brasileiro de 2020. Sem espaço, foi emprestado ao Mazatlán, do México, e, ao final de seu contrato, liberado sem custos para o Guarani, com o Flamengo mantendo 25% de seus direitos econômicos. Hoje, aos 25 anos, Ríos é um dos principais nomes do Palmeiras e alvo de propostas milionárias da Europa.

O Peso da História nos Ombros de Carrascal

A chegada de Jorge Carrascal ao Flamengo , portanto, não é apenas a de mais um reforço; é a de um jogador que carrega o peso de uma história complexa para seus compatriotas no clube. Com a exceção de Cuéllar, os demais colombianos não conseguiram se firmar ou corresponder às expectativas. Carrascal terá a missão de não apenas demonstrar seu valor individual, mas também de, quem sabe, redefinir o legado dos atletas colombianos no time mais popular do Brasil, transformando uma narrativa de raras conquistas em um novo capítulo de sucesso.