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A Inevitável Realidade: Flamengo e Palmeiras Enfrentam o Ano Sem Garantia de Títulos
Por Redação Flapress em 28/10/2025 12:01
No cenário do futebol brasileiro, um aspecto recorrente é a dificuldade em gerenciar as projeções. Quando os clubes envolvidos são os mais abastados do país, ostentando orçamentos bilionários e elencos de notável força, essa questão se agrava. Adicione a isso uma rivalidade crescente, e o risco de uma perda de sensatez se torna ainda mais pronunciado.
O período recente evidenciou essa impaciência. Filipe Luís foi interpelado sobre suas escolhas táticas em Fortaleza, a capacidade de engajamento da equipe e o desempenho de Samuel Lino. Do outro lado, Abel Ferreira teve que justificar não apenas o empate contra o Cruzeiro, mas também a performance em Quito e uma suposta fase de menor brilho de Flaco López. Em ambos os lados, a torcida, frustrada com os resultados, intensificou o debate nas mídias sociais, inaugurando oficialmente a caça aos responsáveis.
Todo esse contexto nos confronta com uma indagação desconfortável, porém essencial: estamos preparados, desde a imprensa até as arquibancadas, para a possibilidade de Flamengo ou Palmeiras encerrarem o ano de 2025 sem conquistar um título de grande relevância? Se tal cenário se concretizar, seremos capazes de uma análise ponderada do desempenho de jogadores, técnicos e equipes? Aparentemente, não. É como se a supremacia financeira tivesse imposto a esses clubes um pacto de vitória, algo que a própria natureza do futebol refuta.
A Ilusão da Vitória Obrigatória
Não é preciso um vasto argumento para inferir que um dos dois não erguerá o troféu do Campeonato Brasileiro, e que talvez nenhum deles conquiste a Libertadores. Seria, sem dúvida, um desfecho decepcionante. Contudo, é quase uma condição imposta pela temporada a ocorrência de momentos de menor brilho. Especialmente na exaustiva jornada do calendário nacional, em um ano que inclui o Mundial de Clubes, é compreensível que o Palmeiras tenha uma atuação como a de Quito, assim como não seria uma exceção o Flamengo ser superado pelo qualificado time do Racing em um ambiente que se anuncia hostil.
Já se foram 29 das 38 partidas que Flamengo e Palmeiras disputarão no Campeonato Brasileiro, uma disputa que se estende por sete meses. Ao longo de todo esse período, os dois atuais gigantes do futebol nacional permaneceram quase sempre no topo, em um embate ponto a ponto, com inúmeros jogos de altíssimo nível. Após as 38 rodadas, a diferença que separará o campeão do "não campeão" será mínima, alguns poucos pontos, insuficientes para reformular a percepção, construída ao longo da jornada, de que estávamos diante de dois conjuntos futebolísticos de excelência. O desafio reside em não perder essa perspectiva.
O Palmeiras é comandado por um dos treinadores mais vitoriosos que o país já testemunhou em sua história no futebol doméstico, alguém que soube construir e reconstruir times com uma notável capacidade competitiva. Atualmente, o clube dispõe de um elenco com talentos que, em épocas passadas, o Brasil não conseguiria atrair. O mesmo se aplica ao Flamengo , que possui um grupo de atletas estelar; no que tange ao status individual dos jogadores, é provável que o clube jamais tenha reunido um elenco com nomes de tamanha importância. No comando, está o mais promissor técnico brasileiro, que em apenas um ano já demonstrou amplamente seu potencial.
A Intolerância à Derrota no Cenário Nacional
É provável, contudo, que os, digamos, dois ou três pontos que porventura inclinem a balança para um lado ou para o outro nos levem a tratar o lado perdedor como uma compilação de falhas e inaptidões. Diante de uma torcida frustrada, em uma era de não aceitação das derrotas, talvez todos nos sintamos na obrigação de corresponder ao sentimento e à percepção de um público que se programou exclusivamente para testemunhar esses dois times erguendo taças.
Se tal diagnóstico é válido para o Brasileiro, não seria diferente na Libertadores. A opulência econômica nos fez desconsiderar que um confronto contra adversários não-brasileiros pode, sim, ser arriscado. E que vencer o torneio não pode ser encarado como uma tarefa rotineira a ser cumprida. Na trajetória de qualquer clube sul-americano, conquistar a Libertadores é uma exceção, e como tal deve ser tratada.
Não se trata de propor, ou de impor, que o torcedor se torne imune às emoções; são elas que movem o futebol, afinal. É natural que a arquibancada se frustre. Trata-se, meramente, de constatar que não estamos preparados para observar times bilionários perdendo partidas, ou mesmo títulos. A sensação é de que o público brasileiro lida mal com a nova ordem econômica, que posiciona dois clubes claramente no topo da pirâmide financeira. Se vivemos uma era de intolerância a frustrações, no futebol essas torcidas e a opinião pública em geral parecem despreparadas para narrar, ao final de 2025, uma história que conclua sem troféus para um dos dois.
O Legado da Competitividade, Além dos Troféus
Flamengo e Palmeiras já cumpriram o que se espera de equipes ricas e bem estruturadas: competir até o desfecho da temporada por troféus. No Campeonato Brasileiro, há apenas um vencedor, e hoje ninguém pode prever qual dos dois o levará para casa. Na Libertadores, não é razoável desqualificar uma equipe que sofre uma dura derrota em condições de altitude, nem mesmo outra que precisará defender em Buenos Aires, sob alta tensão, uma vantagem mínima construída após um jogo de controle substancial.
O calendário brasileiro praticamente impõe a ocorrência de oscilações, de jogos menos inspirados, assim como impõe a condição humana. Contudo, Flamengo e Palmeiras chegam à reta final da maratona vivos, disputando os títulos, com um nível de atuações que se alinha ao poderio financeiro dos clubes e à capacidade técnica de seus elencos. No entanto, o Brasil parece exigir deles uma garantia de vitórias, algo que nenhuma soma de dinheiro no mundo é capaz de proporcionar. Porque o futebol, em sua essência, não funciona assim.
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