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Renato Augusto: Crises de Ansiedade, Revelações sobre Flamengo e o Vínculo Eterno com Corinthians

Por Redação Flapress em 26/09/2025 11:31

Após duas décadas dedicadas ao futebol profissional, marcadas por títulos, reverência e desafios físicos extremos, Renato Augusto encerra sua jornada nos gramados com uma profunda sensação de missão cumprida. O meio-campista, reconhecido por sua inteligência tática e postura serena, revisitou os momentos cruciais de sua carreira, desde o fulgurante surgimento no Flamengo até a consagração no Corinthians, passando pelo ouro olímpico no Maracanã e as amargas lembranças de Copas do Mundo.

A vida de um atleta de elite, sob o escrutínio de milhões, moldou a personalidade de Renato Augusto . Ele navegou entre as expectativas das maiores torcidas do Brasil e a pressão de representar o país em um cenário global, mantendo-se próximo da unanimidade em um ambiente muitas vezes hostil. Agora, com a leveza de quem reassume o papel de pai e marido, ele compartilha suas memórias, revelando não apenas as glórias, mas também as batalhas internas que enfrentou.

O Adeus de um Ícone: Reflexões e Sentimentos Conflitantes

A decisão de pendurar as chuteiras, comunicada ao ge, foi um processo árduo, como o próprio Renato descreve. A paixão pelo campo e a incerteza do futuro colidiam com o desejo de dedicar mais tempo à família. "É muito difícil. Você pensa que não consegue fazer outra coisa além de jogar futebol", reflete. A ideia de parar, que inicialmente mirava os 30 anos, foi estendida até os 37, impulsionada pelo amor ao esporte e a vontade de ser visto pelos filhos em campo. Contudo, o peso da vida familiar prevaleceu, trazendo uma tranquilidade renovada ao ex-atleta, que agora prioriza os papéis de pai e marido.

Em sua análise sobre o fim da carreira, Renato Augusto expressa uma certeza inabalável: "Ter vivido isso foi mágico. Eu falaria para o Renato mais novo: seja feliz e repita tudo. Não trocaria nada". Essa declaração encapsula a plenitude de uma trajetória que, apesar dos percalços, é vista como digna de ser repetida. A seguir, um panorama da notável carreira do jogador:

Ficha Técnica Detalhes
Nome Renato Soares de Oliveira Augusto
Idade 37 anos
Profissão Ex-jogador de futebol e motorista da família
Clubes Flamengo, Bayer Leverkusen (Alemanha), Corinthians, Beijing Guoan (China), Fluminense e Seleção
Títulos Copa do Brasil (2006), Carioca (2007 e 2008), Recopa (2013 e 2024), Brasileirão (2015), Paulista (2013), Copa da China (2018) e Jogos Olímpicos (2016)

As Raízes Rubro-Negras: Ascensão e Mágoas no Flamengo

Apesar de sua identificação mais forte com o Corinthians, a história de Renato Augusto no futebol teve seu alvorecer no Flamengo . O capítulo rubro-negro é repleto de um turbilhão de emoções para o garoto que, em 2006, saiu das arquibancadas para o campo na final da Copa do Brasil, aos 18 anos. Ele recorda a surpresa ao receber a camisa 10: "Como é que ele fala que eu vou ficar tranquilo com a 10 do Zico em uma final de Copa do Brasil com 18 anos?". A vitória contra o Vasco, naquele ano, marcou seu primeiro título profissional. Em 2007, o golaço na final do Campeonato Carioca contra o Botafogo solidificou sua imagem. "Todo mundo fala mais desse jogo do que o da final da Copa do Brasil. Esse jogo contra o Botafogo foi talvez o lance mais marcante para fora. Da Copa do Brasil, para mim, foi muito marcante porque era o primeiro, mas esse do Carioca de 2007 foi o lance mais marcante para mim com a camisa do Flamengo ", relembra.

Contudo, a relação com o clube de sua infância foi pontuada por desilusões. Após a saída para o Bayer Leverkusen em 2008, Renato Augusto tentou retornar em diversas ocasiões, mas as tentativas foram frustradas. "Por muito tempo eu fiquei magoado. Eu tentei voltar por diversas vezes, e o clube depois vendia externamente que eu não quis. Isso me magoava um pouco. Faz parte do jogo, a verdade é essa", desabafa. Ele narra a frustração de ter dado sua palavra ao Flamengo antes de acertar com o Corinthians, apenas para ver o clube rubro-negro contratar outro jogador para sua posição pelo mesmo valor e, posteriormente, divulgar que ele não havia demonstrado interesse em voltar. A mágoa atingiu o ápice em 2014, quando, mesmo com interesse em retornar, recebeu um "não" do clube, provocando um sentimento de "nunca mais volto".

Corinthians: O Laço Inquebrável e o Palco Mágico

A despeito de suas raízes flamenguistas, a conexão com o Corinthians é, para Renato Augusto , o ponto central de sua carreira. "Eu tenho carinho e gratidão pelo Flamengo , mas a minha história, onde meu olho brilha, que eu fico arrepiado, emocionado, hoje é o Corinthians", declara. Em duas passagens pelo Timão, conquistou três títulos em 238 partidas, marcando 28 gols e construindo uma relação de idolatria que culminará em uma homenagem na Neo Química Arena. Ele planeja levar o filho Romeu, de 7 anos, ao estádio no próximo domingo, antes do jogo contra o Flamengo , para que ele entenda a "magia" do lugar. "Quando chegar lá, você vai entender. É aquele lugar mágico. Acho que ele vai acabar sendo corintiano", afirma, quase como uma premonição.

A Neo Química Arena, em particular, detém um significado especial. "Aquele estádio tem alguma parada, eu entro lá e me arrepio", descreve. Ele ressalta a atmosfera única, onde a torcida apoia incessantemente, transformando jogos difíceis em vitórias inesperadas. "Eu tive alguns jogos ali que não foi gol nosso, foi da torcida mesmo. Os caras começaram a apoiar e vai, vai, vai. Quando a gente olhava, desviava, batia em alguém no último minuto e pronto: 1x0. Aquele lugar tem um negócio da torcida que é mágico", conta. Entre os momentos mais marcantes, ele cita a vitória por 2 a 0 contra o São Paulo, com seus dois gols, que impediu o rival de conquistar a primeira vitória na Arena. A final da Copa do Brasil de 2022, perdida para o Flamengo , é lembrada como uma das derrotas mais dolorosas, ao lado da Copa do Mundo de 2018. "Os caras são muito loucos, a gente acabou de perder", pensou ao ver a torcida cantando após a derrota. Até mesmo em uma goleada por 3 a 0 para o Bahia, com o time lutando contra o rebaixamento, a torcida cantou o hino, fazendo-o sentir "vergonha" e pensar: "os caras mereciam".

A segunda passagem pelo Corinthians, embora sem títulos, aprofundou seu vínculo com o clube. Ele a descreve como um período de grande amadurecimento, enfrentando tanto glórias quanto dificuldades. "Acho que eu criei um elo muito maior (com o Corinthians) mesmo não tendo conquistado um título. Conquistei três na minha primeira passagem, com um sendo o melhor do campeonato, outro fazendo gol na final, na Recopa, em cima do São Paulo, um gol de cobertura. Na segunda, apesar de não ter um título, criou um vínculo ainda maior. Foi muito marcante", pondera.

A Batalha Interna: Ansiedade e Saúde Mental no Esporte de Elite

Em um dos momentos mais francos da entrevista, Renato Augusto revelou ter enfrentado crises de ansiedade que o levaram a ser substituído em jogos, muitas vezes disfarçadas como problemas físicos. "No meu fim (de carreira) eu comecei a ter mais crises de ansiedade, tive durante o jogo. Tive que ser substituído, a gente não falava, aí achavam que eu estava machucado. Teve jogo que eu saí no intervalo", confessa. Ele narra um episódio marcante em um jogo contra o Internacional, quando, no ônibus a caminho do Beira-Rio, seu coração começou a disparar, acompanhado de tremores e suor frio. Durante a partida, mesmo fazendo um gol, a angústia persistiu, fazendo-o chorar no intervalo.

A pressão das redes sociais é apontada como um fator significativo para o agravamento da saúde mental dos atletas. "Essa coisa do torcedor chegar muito próximo, com a rede social, tem um lado bom que todo mundo quer ser elogiado. E eu falo para eles (jogadores mais jovens): não acredita no que falam de positivo e nem no negativo, porque você não é tão bom como falam e não é tão ruim como falam", aconselha. Ele compara o ambiente de julgamento no Brasil, "disparado" mais hostil do que em outros países onde atuou, como Alemanha e China, onde a torcida é mais paciente e a pressão externa menos invasiva. "Aqui realmente é um pouco mais agressivo e cada vez tem mais casos até de contato físico, algumas coisas que são perigosas", alerta.

Entre Sonhos e Desafios: A Jornada na Seleção e Experiências Internacionais

A trajetória de Renato Augusto na Seleção Brasileira também foi marcada por momentos de êxtase e dor. A derrota para a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, em que um chute seu "tirou a tinta" da trave, permanece uma ferida aberta. "Eu vi a bola entrar. Eu vi a bola entrar. A bola, caramba, tira a tinta e sai", recorda, ainda com a amargura da oportunidade perdida. "Até hoje esse lance não sai da minha cabeça", admite, pedindo, em tom de brincadeira, para não ser mais marcado em memes sobre o lance.

Em contraste, o ouro olímpico de 2016, conquistado no Maracanã, em seu país, após o doloroso 7 a 1, representa um dos pontos mais altos de sua carreira. A pressão de bater o pênalti decisivo, com a perna pesada e o "mar de gente" no estádio, culminou em um alívio indescritível. "Tu vê que tudo valeu a pena, sabe? Eu acho que, por ser seleção, talvez um dos mais marcantes junto com (o Brasileiro de) 2015 também", afirma. Suas passagens por Bayer Leverkusen e Beijing Guoan também foram fundamentais para sua evolução, tanto tática quanto pessoal. Na Alemanha, aprendeu a disciplina e organização, enquanto na China, onde atuou por mais de cinco anos, desenvolveu a capacidade de assumir diferentes funções, jogando "desde zagueiro até centroavante".

O Futuro Pós-Gramado: Novos Horizontes no Futebol

O futuro de Renato Augusto , mesmo fora dos gramados, permanece ligado ao futebol. Ele expressa o desejo de seguir na área, explorando as possibilidades de ser técnico ou gestor. "Eu quero entender como é que funciona o processo do outro lado. Por isso eu não quero tomar nenhuma atitude agora, vou virar treinador ou não. Eu quero participar de algumas coisas, vivenciar o dia a dia de alguns clubes para poder aprender e, aí sim, poder tomar uma decisão", explica. A gestão de pessoas, uma habilidade que desenvolveu como líder de vestiário, especialmente nos anos finais da carreira, é algo que o encanta. Ele revela que recebeu um convite para comandar o sub-20 do Corinthians, mas preferiu priorizar o tempo com a família e aprofundar seus estudos.

Ao analisar os treinadores com quem trabalhou, Tite é unanimidade: "O Tite no melhor ano. O cara é especial, o melhor treinador que eu tive". Ele destaca o lado humano de Tite e a capacidade de montar um time equilibrado. Sobre Vítor Pereira, a avaliação é mais complexa. Apesar de reconhecer a competência do português, o estilo de jogo e a gestão de elenco não se alinhavam com sua filosofia. "Não era como eu acreditava o futebol, mas são escolhas que ele faz e você tem que acatar", pondera. Fernando Diniz, com quem trabalhou no Fluminense, também é elogiado por suas "ideias novas" e por proporcionar a Renato seu último título como atleta profissional.

Entre os muitos amigos que fez no futebol, Fábio Santos é apontado como o principal: "É meu irmão máximo". No campo, Neymar é "disparado" o melhor jogador com quem atuou, enquanto Jadson, Elias, Paulinho, Vidal e Jonathan Viera são lembrados como grandes parceiros. Com cursos de treinador em andamento e a intenção de buscar a área de gestão, Renato Augusto busca uma "luz" para definir seu próximo passo. "Ele (Edu Gaspar) falou: 'só vou te fazer um pedido: não sai do futebol. Futebol precisa de caras que nem você'", conta, reiterando a importância de sua permanência no esporte. Para encerrar, após repassar toda a sua carreira, a mensagem que Renato Augusto deixaria para o Renato mais jovem é clara: "Faça tudo de novo, vai valer a pena".

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Comentado em 26/09/2025 13:10 Respeito demais a história do Renato no Fla, o menino que brilhou com a 10 na final é mito.
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