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Racing e a Lenda da Maldição: O Adversário do Flamengo na Libertadores e Seus 35 Anos de Azar
Por Redação Flapress em 28/10/2025 11:11
No universo do futebol, onde a paixão e a rivalidade se entrelaçam, as superstições frequentemente oferecem uma narrativa alternativa para as reviravoltas do destino. Em Avellaneda, berço de um dos clássicos mais fervorosos da Argentina, uma lenda persiste para explicar um período de infortúnio que marcou o Racing Club por décadas. Conhecido por seu passado glorioso, ?La Academia? enfrentou um hiato de 35 anos sem grandes conquistas, um período que muitos atribuem a uma suposta maldição lançada por torcedores rivais no século passado. Esta é uma análise aprofundada sobre a intrigante história que antecede o decisivo confronto do Flamengo contra o Racing na semifinal da Libertadores.
A equipe rubro-negra se prepara para o jogo de volta da semifinal da Libertadores, que ocorre nesta quarta-feira, às 21h30, no Cilindro, em Avellaneda. O Flamengo chega com a vantagem de ter vencido a partida de ida por 1 a 0, no Maracanã.
O Passado Dourado e a Gênese de um Enigma
No alvorecer do Século 20, o Racing Club era a personificação da excelência no futebol argentino. Apelidado de ?La Academia? devido à sua supremacia e a uma notável sequência de vitórias, o clube conquistou sete campeonatos nacionais consecutivos entre 1913 e 1919, sendo cinco deles de forma invicta. O ápice veio em 1967, quando o Racing superou o campeão europeu Celtic, da Escócia, tornando-se o primeiro time argentino a erguer a Copa Intercontinental.
Era uma equipe que havia ficado 39 partidas invicta entre 1965 e 1966, que tinha se consagrado campeã da Copa Libertadores em 1967. O futuro do Racing Club parecia extremamente promissor. Mas, como em toda boa história de rivalidade, o sucesso da Academia despertou algo mais sombrio do outro lado da cidade. Em Avellaneda, a glória de um sempre ecoa como dor para o outro
Essa observação do escritor argentino Carlos Aira ao ge contextualiza o cenário para o nascimento da lenda. A prosperidade do Racing, inevitavelmente, gerou ressentimento no Independiente, seu arquirrival, que havia falhado em suas tentativas de conquistar a Copa Intercontinental em 1965 e 1966, perdendo ambas as finais para a Inter de Milão. É nesse contexto de inveja e rivalidade intensa que a história da maldição ganha forma.
A Maldição dos Sete Gatos: Um Pacto Sombrio
A narrativa popular conta que torcedores do Independiente, com o auxílio de uma bruxa local e a cumplicidade de um vigia noturno do Cilindro que nutria simpatias pelo rival, invadiram o estádio do Racing. O objetivo era realizar um ritual macabro: enterrar sete gatos mortos. Seis foram depositados sob um dos gols, e o sétimo em um local secreto, com a intenção de amaldiçoar o Racing e reverter sua sorte. A partir desse momento, o clube de Avellaneda mergulhou em um período de profundas dificuldades.
O impacto foi imediato e duradouro. O adversário do Flamengo nesta quarta-feira iniciou uma trajetória de anos sombrios, marcada por uma série de reveses dentro e fora dos gramados. A lenda se consolidou como uma explicação para a inexplicável queda do gigante argentino.
Décadas de Infortúnio: O Preço da Maldição
A partir de 4 de novembro de 1967, a trajetória do Racing Club se transformou em uma luta incessante, conforme relatado por Carlos Aira:
A questão é que, acredite se quiser, desde aquele 4 de novembro de 1967, para o Racing Club, tudo passou a ser uma luta constante. A década de 1970 foi péssima, tanto no aspecto esportivo quanto no institucional. Em dezembro de 1983, o clube sofreu o rebaixamento para a segunda divisão, enquanto, ao mesmo tempo, o Independiente vivia seu auge: foi campeão da Copa Libertadores da América quatro vezes consecutivas, entre 1972 e 1975, e campeão intercontinental em 1973, em Roma, derrotando a Juventus
O Racing entrou em um ciclo de fracassos que se estenderia por 35 anos, sem títulos, enfrentando severas dificuldades financeiras e culminando no inédito rebaixamento em 1983, ironicamente selado em um clássico contra o próprio Independiente. Diversas versões da lenda surgiram ao longo do tempo. Uma delas narra que o técnico Juan Carlos Lorenzo, em 1980, ordenou a desenterra dos gatos, mas apenas seis foram localizados. Outros relatos mencionam rituais de purificação, incluindo o enterro de sapos ? símbolos de renovação ? nos locais escavados, na tentativa de romper o feitiço. A lenda alimentou o imaginário dos torcedores do Racing por décadas.
Fé e Desespero: A Busca Pela Quebra do Encanto
No início de 1998, a lenda dos gatos mortos ressurgiu com força, levando a diretoria do Racing a buscar a intervenção da fé. Aproximadamente 15 mil torcedores participaram de uma procissão, caminhando da Catedral da Plaza de Mayo até o estádio, carregando uma imagem da Virgem de Luján, padroeira da Argentina. No gramado, o padre Jorge Della Barca celebrou uma missa e aspergiu água benta, em um ato que o então presidente Daniel Lalín descreveu como ?um gesto de fé, não um exorcismo?. Naquela ocasião, o padre declarou que ?a melhor bênção era simplesmente jogar bem futebol?.
O jornalista argentino Carlos Aira reforça a dualidade do evento:
A própria diretoria do Racing Club decidiu realizar o que alguns diziam ser um exorcismo, embora oficialmente tenha sido chamada de homilia
Contudo, a cerimônia não produziu efeitos imediatos. Um ano depois, o Racing enfrentaria o pedido de falência, um dos momentos mais sombrios de sua história.
O Retorno da Sorte: O Fim do Jejum de 35 Anos
Das cinzas da quase falência, emergiria a redenção. Em 2000, o técnico Reinaldo ?Mostaza? Merlo assumiu o comando da equipe. Conhecido por sua tática e por sua forte crença em superstições, Merlo teria insistido na busca pelo sétimo gato. Durante as reformas no estádio, uma área cimentada atrás do gol foi demolida e escavada, e ali, segundo a tradição oral, o último gato teria sido finalmente descoberto. Coincidência ou não, o Racing voltou a conquistar títulos. Em 27 de dezembro de 2001, após 35 anos de espera, o clube sagrou-se campeão argentino, encerrando o longo período de seca.
Carlos Aira complementa essa reviravolta com um detalhe pitoresco:
O que é certo é que, naquela época, havia algo simbólico ligado ao Racing: a 200 metros do estádio da Academia, existia uma pizzaria muito famosa chamada La Mufa, que significa 'má sorte'. Curiosamente, essa pizzaria também deixou de existir em 2001, justamente no ano em que o Racing se consagrou campeão após 35 anos de jejum
Os mais céticos apontam que a lenda se adapta conforme quem a narra, com detalhes incertos sobre a data exata do enterro, a autoria da escavação ou a real descoberta. No entanto, o fascínio pela história persiste, e a lenda continua a ser evocada. O ?gol amaldiçoado? estará lá nesta quarta-feira, aguardando o Flamengo em sua busca pela vaga na final da Libertadores. A pergunta que fica é: a história do Racing influenciará o destino do confronto?
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