- Flapress
- Perácio: Do Campo de Batalha à Glória Rubro-Negra - 80 Anos de um Retorno Épico
Perácio: Do Campo de Batalha à Glória Rubro-Negra - 80 Anos de um Retorno Épico
Por Redação Flapress em 22/08/2025 08:00
Em 22 de agosto de 1945, o Brasil acolhia de volta um de seus heróis de guerra, e o Flamengo, um de seus mais emblemáticos atacantes. Exatamente oito décadas atrás, José Perácio retornava ao solo pátrio, vitorioso de uma das mais árduas empreitadas de sua vida: a Batalha de Montese.
O palco dessa façanha, Montese, na região da Toscana, foi cenário de um dos confrontos mais brutais enfrentados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) em abril de 1945. A localidade, fortificada por defesas alemãs, possuía valor estratégico crucial para a progressão Aliada contra as forças do Eixo. Por três dias, em meio a um terreno desafiador e uma oposição ferrenha, as tropas brasileiras prevaleceram, consolidando uma das mais notáveis conquistas do país naquele conflito global.
A Conquista de Montese: O Palco da Bravura Brasileira
Antes de empunhar o fuzil, Perácio já havia demonstrado sua bravura nos gramados. Sua participação na Copa do Mundo de 1938, na França, foi um marco para o futebol brasileiro, que alcançou um inédito terceiro lugar, solidificando sua posição no cenário internacional. O atacante, figura central daquela campanha, vestiria as cores do Flamengo anos mais tarde, tornando-se um ícone.
O retorno de Perácio, que já era um ídolo nacional por sua performance na Copa de 1938 e por ter sido peça chave no tricampeonato carioca do Flamengo (1942, 1943 e 1944), foi compartilhado com outros atletas: Walter e Geninho, ambos do Botafogo. Embora Perácio tenha sido mobilizado para a Itália em março de 1944, meses antes de seus colegas, é importante destacar que, assim como eles, não esteve na linha de frente do combate direto, que ceifou a vida de cerca de 400 militares brasileiros. A emoção de sua volta é vívida nas palavras da imprensa da época:
A chegada do "Mariposa" ao porto do Rio de Janeiro levou ao cais uma grande multidão. Lá havia, na manhã de hoje, amigos e parentes dos bravos expedicionários, integrantes do segundo escalão, de façanha memorável nas campanhas da Itália. O "cliché" focaliza quatro diferentes aspectos do feliz retorno, vendo-se num deles o famoso footballer José Perácio, de fuzil em punho e sobraçando a "mascote" de bordo, um lindo cachorro que se tornou amigo dos nossos "pracinhas" na terra que libertamos do jugo fascista
O jornal "O Globo" ainda complementava, notando que o atacante regressava ao Brasil com "quase seis quilos a mais", um indicativo da resiliência em tempos de guerra.
O Legado de um Ídolo: Do Manto Sagrado ao Front de Batalha
Mesmo distante, em solo italiano, Perácio manteve viva a chama de seu clube e de sua nação. Em uma correspondência a Ary Barroso, renomado radialista e fervoroso rubro-negro, o jogador expressou que sua missão ia além do dever patriótico; ele também representava o Flamengo na guerra, encarando aquele conflito como um segundo embate contra os italianos. Seu patriotismo e devoção ao Manto Sagrado ecoam nas palavras publicadas pelo "Diário de Pernambuco" em 8 de novembro de 1944:
Diga-lhes que tudo farei pela vitória e que assim, de modo especial, o nosso querido Flamengo estará diretamente contribuindo para a derrota do nazifascismo. Sinceramente, já lutei contra os fascistas, jogando bola. Lutarei agora contra os nazistas, jogando bala! Essa é a minha partida de maior "vulto". Darei Tudo!
A menção ao "combate" anterior contra os fascistas referia-se, ironicamente, ao duelo em campo contra a Itália na semifinal da Copa de 1938, partida que resultou na eliminação brasileira. Embora sua atuação na Segunda Guerra Mundial não tenha sido na linha de frente, o legado de Perácio nos campos de futebol é inegável. Com passagens marcantes por clubes como Villa Nova e Botafogo, foi no Flamengo que o atacante se consagrou, sendo um dos pilares do tricampeonato rubro-negro. Em 1943, brilhou como artilheiro da equipe no Campeonato Estadual, balançando as redes 14 vezes. Sua presença em campo foi infelizmente abreviada no ano seguinte, 1944, devido ao chamado para cumprir suas obrigações militares, um sacrifício que o elevou de ídolo esportivo a herói nacional.
Curtiu esse post?
Participe e suba no rank de membros