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Jorginho e o Choque: Arbitragem e Gramados do Brasil Sob o Olhar Crítico do Volante do Flamengo
Por Redação Flapress em 13/10/2025 12:34
Após quase duas décadas de uma trajetória consolidada no cenário europeu, marcada por passagens em grandes clubes e importantes conquistas, Jorginho, o experiente volante, retornou ao Brasil para um novo desafio no Flamengo. Sua readaptação ao futebol nacional, embora pontuada por momentos de destaque em campo, tem sido acompanhada por um notável espanto diante de certas peculiaridades, especialmente no que tange ao padrão da arbitragem e a infraestrutura dos gramados.
O meio-campista ítalo-brasileiro expressou sua perplexidade em uma entrevista exclusiva ao UOL, destacando a dificuldade em compreender certas dinâmicas:
Cara, é algo que estou tentando entender. É difícil até dar um parecer, porque acontecem muitas coisas que você fica meio que sem acreditar. Muitas coisas muito claras. Tem umas decisões que são bem difíceis de entender mesmo e acaba prejudicando e afetando o trabalho de todo mundo. Você se dedica tanto e acaba acontecendo o que vem acontecendo. O que fazer? Boa pergunta. Não tenho uma resposta. Mas melhorar, precisa ser melhorado. Precisa encontrar uma maneira de melhorar issoA preocupação de Jorginho reside no impacto direto dessas decisões sobre o desempenho das equipes e o esforço dos profissionais envolvidos, que veem seu trabalho minado por equívocos evidentes.
Além da complexidade arbitral, a condição dos gramados representa outro ponto de significativa apreensão para o ex-jogador de Arsenal, Chelsea e Napoli. Jorginho defende veementemente a necessidade de uma padronização, ilustrando a situação com a Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), como um exemplo de infraestrutura deficiente, onde as condições de jogo se mostraram impraticáveis.
Ele detalhou a disparidade encontrada:
Acredito que tinha que ser meio que padronizado. Porque tem uma diferença muito grande quando você joga em certos campos e três dias depois você vai para outro e é completamente diferente. E aí tem várias questões, pode ser a questão climática... Deveria, pelo menos, ter um padrão mínimo de qualidade para o espectador, para o torcedor que paga o ingresso poder ter um belo espetáculo. Com todo respeito ao último jogo agora, com todo respeito ao Bahia, que é uma grande equipe, um grande clube, mas o campo lá era impossível de jogar futebol. Estava muito, muito difícil. Acredito que isso acaba afetando muito na qualidade do jogo em um país que tem muita qualidade de jogadores
A Visão de um Europeu: Qualidade do Jogo em Risco
Os profundos relatos de Jorginho foram colhidos durante uma entrevista exclusiva concedida no Ninho do Urubu, na última sexta-feira. Em um bate-papo de 40 minutos, o volante discorreu abertamente sobre aspectos de sua vida pessoal, os desafios de seu retorno ao Brasil, os bastidores de sua chegada ao Flamengo e a dinâmica de trabalho com Filipe Luís. Ele também revelou um crescente interesse em uma futura carreira como treinador e expressou sua admiração pelo talento de Arrascaeta, a quem carinhosamente apelida de "qualidade".
A ideia de se tornar treinador não é recente para Jorginho. Ele conta que a semente foi plantada durante sua passagem pelo Arsenal, onde, inicialmente relutante, acabou por realizar um curso.
Tentei fugir bastante disso (risos), porque meio que desde cedo tinha essas características de comunicação, de leitura de jogo. Então cheguei no Arsenal e me perguntaram: 'você quer tirar carteirinha de treinador aqui?'. Aí eu falei: 'não, não quero ser treinador'. Estava tentando correr disso (risos), mas aí me empurraram um pouco e eu falei: 'tá bom, vou fazer para ter. Vai que um dia... (risos)'. Aí fui fazer o primeiro dia de treinamento com os meninos lá da base do Arsenal. Quando fiz o primeiro, falei: 'caramba... (risos). Isso é muito bom'. E aí comecei nisso e estou gostando bastante de aprender, de ver esse outro lado, essa outra questão do futebol, que não é só a questão dentro do campo, a questão tática tem todo o envolvimento. Então, estou aprendendo muito e... Vou ser um treinador? Não sei ainda. Mas tem grandes chances, digamos.Sua experiência inicial com a base demonstrou-lhe um novo lado do esporte, que vai além das quatro linhas, envolvendo a gestão e a estratégia tática, o que o cativou profundamente.

A Transição para a Beira do Campo: O Futuro de Jorginho
O trabalho com Filipe Luís , agora em sua função de treinador, tem sido particularmente enriquecedor para Jorginho. Apesar de nunca terem se enfrentado como adversários, o volante sempre acompanhou a carreira do ex-lateral e agora, na nova dinâmica, tem encontrado uma sintonia notável.
Por coincidência, a gente acabou não se enfrentando. Mas acompanhei muito a carreira dele e agora, como treinador, está sendo muito bacana, muito legal mesmo, porque estou aprendendo com ele também. Aprendi muito com todos os treinadores que eu tive e ele, começando agora, já está começando com o pé direito, no caminho certo e está demonstrando todo o potencial que tem com o excelente trabalho que vem fazendo.
A decisão de vir para o Flamengo também teve um forte componente familiar. Um período de férias no Rio de Janeiro foi decisivo para que a esposa de Jorginho, de origem britânica, pudesse se adaptar e se sentir confortável com a ideia de viver no Brasil.
Com certeza aquele período que eu estive aqui foi importante não só para mim, mas também para minha esposa, porque ela sendo britânica, não conhecendo tanto o Brasil, seria importante saber que ela estaria tranquila de poder vir, de que gostou. Então, foram dias legais que a gente passou aqui sabendo que ela estaria tranquila. Isso fez com que eu também estivesse tranquilo para tomar essa decisão, para que a gente pudesse viver essa experiência.Esse fator de estabilidade pessoal foi crucial para a escolha do jogador.
Sintonia Tática e Escolha Pessoal: A Chegada ao Ninho
Sobre a questão dos gramados, Jorginho fez uma ponderação interessante sobre os campos sintéticos. Embora não os considere ideais devido ao maior risco de lesões, ele os vê como uma alternativa superior a um gramado natural em péssimas condições.
Joguei contra o Atlético-MG. É complicado, mas se é para jogar num estádio onde não tem um 'gramado', acaba sendo melhor jogar num sintético. Obviamente que não é o ideal, porque acaba tendo mais lesões. Acredito que seja bem pior do que um campo normal, porém há campos e campos, entendeu?
A escolha pela cidadania italiana e a representação da seleção da Itália foi um momento de profunda reflexão para Jorginho, que cresceu idolatrando craques brasileiros.
Foi algo que a gente já sabia que tinha possibilidade porque eu podia me naturalizar. Mas o mais importante era eu conseguir tirar o passaporte. Depois que eu tirei o passaporte, foi quando a seleção italiana veio conversar. E aí, quando chegou a ligação, que o pessoal do clube conversou comigo, eu fiquei; 'caramba, que legal'. Aí, conversei com meus pais. Eu tinha 19 para 20 anos, mais ou menos. Aí falei: 'deixa eu pensar mais um pouquinho (risos)'. Porque, querendo ou não, eu cresci assistindo Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo, esses ídolos. E o sonho de toda criança brasileira é vestir a Amarelinha, né? Então, naquele momento, eu estava tendo um choque de realidade. Só que fui vendo meu percurso e acabei decidindo ir para a seleção italiana pela minha trajetória, pelo meu passado também, com sangue italiano. E aprendi muito. Lá na Itália é um país que amo muito, sinto que parte de mim é italiano, tenho algumas manias, alguns hábitos que são mais italianos do que brasileiro, então a decisão foi tomada baseada nessa história.Ele ainda manifesta o desejo de retornar às convocações da Azurra, e vê sua atuação no Flamengo como um meio para alcançar esse objetivo.
Essa foi mais uma decisão também do porquê eu vir para um clube como o Flamengo, para estar em vista. Estou me dedicando bastante para estar pronto se chegar uma chamada.
Identidade e Ambições: Itália e o Sonho de Convocação
A transição do Chelsea para o Arsenal, um rival direto, foi um período de adaptação para o volante. Apesar de ter vivido anos gloriosos e conquistando títulos inesperados no Chelsea, a ida para os Gunners trouxe uma recepção calorosa que o surpreendeu.
Primeiro falando de Chelsea, vivi anos incríveis lá. Conquistei o que realmente nem imaginava quando comecei. Lembranças maravilhosas de momentos incríveis. Aconteceu tudo muito rápido, uma coisa atrás da outra. Depois, com o tempo, que vai caindo a ficha do quão grande foi. Aí depois chega um momento da troca para o rival e eu fui um pouco assim: 'vamos ver como é que vai ser'. Cheguei pisando em ovos, mas, cara, vou te falar: fui recebido de uma maneira incrível, um carinho enorme, que me surpreendeu bastante, mas foi muito legal. Eu tive dois anos e meio ali. Fui muito feliz na parte pessoal. Uma coisa que ficou, para mim, faltando, foi poder ter dado mais alegria para aquela torcida. Infelizmente, por várias situações, não foi possível. Então, isso é uma coisinha que ficou assim dentro de mim, que eu recebi muito carinho e eu queria ter retribuído à altura, mas infelizmente não foi possível.
Ao ser questionado sobre o melhor jogador com quem já atuou, Jorginho não hesitou em apontar Eden Hazard.
Disparado foi o Hazard. Ele era algo bizarro, bizarro mesmo. A gente ficava assim: 'como que ele fez isso?'. Para mim, ele não ganhou uma Bola de Ouro porque ele não quis. Porque ele era quem ele era e pronto. Mas o que eu vi ele fazer foi impressionante.
Experiências Europeias: Legados e Rivalidades
No Flamengo , a admiração de Jorginho por Giorgian De Arrascaeta é evidente. O volante brinca com o uruguaio, chamando-o de "qualidade", tamanha a sua capacidade em campo.
Eu estava brincando com ele ontem: como é que ele deu aquele passe à esquerda, cara? Chamo ele de 'qualidade', fico dizendo: 'caraca, que qualidade, hein' (risos). Pô, só dar a bola para ele (risos).
Em seu lar, Jorginho descreve uma rica fusão cultural, com influências brasileira, italiana e inglesa. A comunicação em casa é predominantemente em inglês, devido à sua esposa britânica e aos filhos nascidos na Inglaterra, que agora se esforçam para aprender português e já apreciam a culinária local.
Ah, mistura tudo, né? Tento pegar o melhor de cada um e vai implementando na família ali, mas em casa a gente fala mais inglês, porque minha esposa é britânica, as crianças nasceram lá e agora estão tentando aprender português, já estão desenrolando. Mas também já aprendem a dar um jeitinho brasileiro e estão gostando bastante da culinária do Brasil também. Da culinária da Itália não precisa falar que é maravilhosa também, então eles gostam também. Então a gente vai pegando um pouquinho daqui, um pouquinho dali, é uma mistura (risos).
A paixão pelo Flamengo é tão contagiante que até seu pai, que era vascaíno, "virou a casaca".
Já. Ele já virou casaca na hora (risos) Não está nem aí, coloca a camisa do Flamengo, vai embora e fala: 'sou Flamengo agora (risos).
Refletindo sobre sua própria trajetória, Jorginho tem uma mensagem clara para o jovem de 13 anos que partiu para a Europa:
Vou te falar que teve um período ali da juventude, como todo jovem tem, que você meio que talvez pode se perder um pouquinho. Principalmente na questão da humildade, de como você vê as coisas, de como você trabalha. Então, a única coisa que eu falaria era para trabalhar do jeito que sempre trabalhou, acreditar do jeito que acreditou e não se perder nem um pouquinho nesse caminho. Porque a linha é muito sutil. Para você ir para o lado errado e depois não conquistar o que você possa merecer, a linha é muito pequenininha.Uma lição sobre a importância da humildade e do foco para não desviar do caminho do sucesso.
Legados, Família e o Caminho da Humildade
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