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Jogo de Poder: As Estratégias Políticas que Moldam Flamengo e Palmeiras
Por Redação Flapress em 16/10/2025 08:30
O cenário do futebol brasileiro contemporâneo é dominado por dois colossos: Flamengo e Palmeiras. Clubes que, embora adversários em campos decisivos, como o recente embate pelo Campeonato Brasileiro, construíram trajetórias de reconstrução e acúmulo de receitas bilionárias, culminando em um domínio nas principais competições nacionais e continentais. Contudo, a base para esse sucesso, moldada nos bastidores, revela estratégias políticas marcadamente distintas, refletindo as particularidades de cada instituição.
Palmeiras: A Hegemonia de uma Liderança e seus Desafios
No Palmeiras, a estrutura de poder atual é fortemente centralizada na figura de Leila Pereira e seus aliados. É praticamente inconcebível que um candidato consiga ascender à presidência sem o respaldo dela no panorama atual. A grande incógnita reside na sucessão de 2028, pois não há um consenso claro sobre o nome a ser indicado pela presidente.
Com um mandato que se estende até 2027, Leila Pereira avalia duas principais possibilidades: Paulo Buosi e Everaldo Coelho, ambos vice-presidentes em sua chapa. A confiança em sua capacidade de assumir a função, no entanto, não é plena. Não por acaso, a atual presidente chegou a ponderar uma alteração no estatuto para permitir um terceiro mandato, embora essa ideia esteja descartada no momento. Uma eventual divisão na situação seria o único caminho viável para a oposição conseguir se inserir no jogo político.
A aparente tranquilidade atual, entretanto, é um evento raro na história política palmeirense. A calmaria começou a se desenhar em 2012, quando Paulo Nobre, em sua segunda tentativa, foi eleito. Uma leve turbulência marcou a transição para Maurício Galiotte, uma vez que Nobre desejava que seu sucessor rompesse com Leila Pereira, à época patrocinadora do clube, o que não ocorreu. Desde então, Nobre e Galiotte não mantiveram mais contato.
Galiotte conduziu sua gestão sem uma oposição ativa até a chegada de Leila. Em seu primeiro mandato, foi eleito sem concorrência. No segundo, enfrentou Genaro Marino, representante de Nobre, mas venceu com ampla margem. Ao término de sua gestão, o cenário se repetiu: Leila foi eleita por aclamação em sua primeira vez e reeleita sem dificuldades diante da oposição.
A Transformação Eleitoral e o Voto do Sócio
A paz que se observa hoje se deve, em parte, ao enfraquecimento dos antigos "cardeais" políticos, que perderam influência com a implementação das eleições diretas, promovidas no início dos anos 2010. Os acordos e conchavos, antes negociados pelos conselheiros, não possuem mais o mesmo impacto.
"Houve uma modernização no comportamento dos membros do Conselho, no apaziguamento, o que é muito importante para a estabilidade do clube. As diretas podem ter uma relação, mas talvez não tão imediata. Eu vivo o Palmeiras desde menino, o futebol é uma construção. O clube evoluiu, teve Maurício e Leila, que são muito capazes de conversar com conselheiros, então acho que esse é um episódio de racionalidade e isso é muito bom para o clube. A construção da nossa história mostra que nos transformamos em um clube", analisou o ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo.
Atualmente, o direito ao voto pertence ao sócio da sede social, ou seja, aqueles que frequentam as instalações como piscina, bocha e outros setores do clube. Essa realidade explica a dedicação de Leila Pereira em projetos custeados com recursos próprios para o clube, como a reforma da piscina, a organização de shows com artistas renomados como Ivete Sangalo e a distribuição de brindes para crianças em datas comemorativas, visando a fidelização desse eleitorado.
Mustafá Contursi, um presidente histórico e tradicionalmente líder do maior grupo de votantes, hoje figura apenas como mais um membro do Conselho. Ele desempenhou um papel crucial ao viabilizar uma manobra que alterou o tempo de associação de Leila para que ela pudesse se tornar conselheira, mas, posteriormente, foi marginalizado pela própria Leila. Diversos ex-presidentes ainda estão vivos e atuantes, como Mustafá Contursi, Affonso Della Mônica, Luiz Gonzaga Belluzzo, Paulo Nobre, Arnaldo Tironi e Maurício Galiotte. Contudo, nenhum deles ostenta o mesmo prestígio que Leila Pereira possui atualmente.
Flamengo: A Consistência da Chapa Azul e a Arte da Adaptação
No Flamengo , a figura que aspira ao controle político ? ou a ser um representante de um grupo específico ? não pode ignorar a narrativa e a metodologia que impulsionaram o clube a partir da eleição de 2012. O clube passou por uma rigorosa organização financeira, incorporou executivos de mercado em setores estratégicos e soube catalisar a paixão de sua imensa torcida para se transformar em um fenômeno de arrecadação.
Essa transformação só foi possível graças a um alinhamento político entre forças antigas e novas, que permitiu o abandono de uma era de precariedade e situações, por vezes, pitorescas, como a declaração do ex-presidente Márcio Braga em 2009: "Acabou o dinheiro".
"O clube tem pilares importantes, como o financeiro e o futebol. No Flamengo temos hoje a clara percepção de que o clube não pode mais retroceder. Da mesma forma que não queremos que nosso clube se transforme em SAF e perca a sua identidade, temos certeza que o modelo híbrido precisa ser cada vez mais profissional. A importância maior dos sócios e conselheiros é fiscalizar o trabalho dos profissionais e estar atento, mas sem invadir o espaço", pontuou Rodrigo Dunshee de Abranches, vice de Landim e um dos que perderam a eleição para Bap.
Isso não significa que o ambiente político tenha se tornado menos disputado. A chave é que o sucesso tem sido alcançado por aqueles que pertencem ou pertenceram à chamada "chapa azul" original, de 2012. E, dentro desse espectro, embora haja mudanças de coloração, a alternância de poder já ocorreu.
A Dança das Cadeiras e a Influência dos Ídolos
Eduardo Bandeira de Mello cumpriu dois mandatos, mas não conseguiu eleger seu sucessor. Veio Rodolfo Landim, que também cumpriu dois mandatos, mas igualmente não emplacou seu sucessor. Agora, a vez é de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, que, antes aliado dos dois antecessores, tornou-se oposição. É como se o Flamengo trocasse de uniforme, mas mantivesse a mesma identidade de marca.
Os grupos políticos adjacentes se ajustam conforme os interesses do momento e as demandas da torcida e dos conselheiros. Se a gestão Bandeira organizou as finanças, mas não conquistou títulos expressivos, Landim emergiu com a promessa de que o clube precisava ser campeão. Se Landim utilizou o estádio como plataforma de campanha e negociou o contrato atual com a Libra e a Globo, Bap surge para reavaliar a estratégia e fortalecer a posição do Flamengo nas discussões comerciais.
"A diferença é que antes o Flamengo era gerido por paixão e como clube. Hoje, o Flamengo é clube gerido como empresa. O ambiente político serve de controle para o dia a dia do clube. É o crivo, é o olhar do dono, que são os sócios e a torcida do Flamengo, em cima da gestão do Flamengo", detalhou Maurício Gomes de Mattos, vice de Bandeira e um dos candidatos derrotados por Bap.
As eleições do Flamengo ainda contam com a participação ativa de ex-presidentes de um passado anterior à reestruturação pós-2013. Nomes como Kléber Leite, Patrícia Amorim, Márcio Braga, Hélio Ferraz, Luís Augusto Veloso e até George Helal, figuras que para a torcida em geral podem não ter mais a mesma relevância, ainda angariam votos no universo dos sócios.
A disputa pelo apoio de Zico é um fator à parte. Na última eleição, ele declarou preferência por Bap, que acabou vitorioso. Outros ídolos da geração de 1981 também costumam ser cortejados por candidatos e suas chapas. Todo esse contexto se manifesta na sede da Gávea, com uma intensa movimentação de "boca de urna" que se estende até mesmo aos grupos dos esportes olímpicos, com forte presença no clube.
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