Flamengo x Grêmio: Volpi é o Herói no Empate do Brasileirão – Análise Tática

O Grêmio assegurou um resultado valioso na sua jornada para distanciar-se das posições de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Em um embate onde o Flamengo ditou o ritmo, o Tricolor soube se defender com afinco, resistindo à pressão adversária. Mesmo saindo em desvantagem no placar e correndo o risco de sofrer o segundo gol, a equipe gaúcha ganhou fôlego ofensivo com as alterações promovidas no final do jogo, culminando no empate através de um pênalti convertido por Tiago Volpi.

A performance de Tiago Volpi, goleiro gremista, foi inquestionavelmente o grande destaque individual da partida, influenciando diretamente o desfecho. Suas duas intervenções primorosas em finalizações de Léo Pereira e Pedro mantiveram o Grêmio vivo, e sua frieza na cobrança do pênalti nos minutos derradeiros sacramentou o placar. O Rubro-Negro, por sua vez, detinha uma situação extremamente favorável após superar a compacta defesa gremista, com o placar aberto e espaços promissores, mas falhou em capitalizar, demonstrando uma notável falta de senso de urgência e precisão nas definições.

O Confronto Tático: As Escolhas Iniciais no Brasileirão

Para o Flamengo , Filipe Luís optou por uma dupla de volantes com De la Cruz e Saúl, em virtude da ausência de Jorginho, não relacionado para o duelo. O uruguaio, vale destacar, não iniciava uma partida desde meados de maio. Na lateral-esquerda, Ayrton Lucas assumiu a vaga de Alex Sandro, enquanto o restante da equipe manteve a base que goleou o Vitória na rodada anterior. No Grêmio, Mano Menezes surpreendeu ao escalar Braithwaite e Carlos Vinícius como dupla de ataque. Dodi e Cristian Olivera operaram nas pontas, com Edenilson e Cuellar formando a dupla de volantes. Noriega fez sua estreia na zaga, substituindo o ausente Balbuena, configurando um esquema 4-4-2.

A seguir, uma visão detalhada das escalações que iniciaram o confronto:

Domínio Estéril: A Dificuldade Rubro-Negra em Penetrar

Era esperado que o Grêmio fosse submetido a uma intensa pressão do Flamengo desde os momentos iniciais no Maracanã, e tal expectativa se confirmou. A questão para o time rubro-negro, no entanto, residiu na dificuldade em transpor a sólida e bem postada defesa tricolor. Embora os anfitriões mantivessem a posse de bola majoritariamente na intermediária ofensiva, só conseguiram criar duas oportunidades de real perigo ao longo da primeira etapa.

O primeiro desses momentos ocorreu nos cinco minutos inaugurais, quando Varela, Plata e Samuel Lino buscaram infiltrações em profundidade, acionados por Léo Ortiz, Saúl e Arrascaeta. Marlon e Noriega, no entanto, foram decisivos, realizando cortes providenciais a poucos metros da meta e impedindo finalizações claras. Foram, sem dúvida, os pilares defensivos do Imortal antes do intervalo, com uma série de desarmes eficazes. O segundo período de intensa pressão do Mais Querido surgiu após os 40 minutos, em uma sequência de rebotes de escanteios e bolas alçadas na área. Pedro desperdiçou uma grande chance, batendo em cima de Volpi após cruzamento rasteiro de Arrascaeta na pequena área. Na sequência, Noriega salvou sobre a linha uma bola dividida entre Pedro e Volpi, evitando o gol.

Apesar de não ameaçar o Flamengo em nenhum momento dos 48 minutos iniciais, a organização defensiva do Grêmio merece elogios. Além de Noriega e Marlon, já mencionados, Kannemann e Cristian Olivera foram cruciais. O zagueiro executou coberturas impecáveis e cortes precisos em cruzamentos, enquanto o atacante demonstrou disciplina tática ao acompanhar Varela até a linha de fundo defensiva, anulando as investidas do lateral. O comportamento de Olivera, em diversos momentos, transformava o sistema defensivo tricolor em uma linha de cinco, com ele seguindo Varela e Marlon vigiando a movimentação de Plata para o centro. Cuellar, apesar de cometer mais erros que o habitual com a posse de bola, foi vital na proteção da área, interceptando jogadas. Edenílson, Dodi e Braithwaite também se destacaram pela disciplina tática.

A Muralha Tricolor e a Virada de Chave

Ao Flamengo faltou maior fluidez na circulação da bola e a capacidade de gerar combinações mais eficazes pelos flancos. A definição dos ataques, quase sempre centralizada, era neutralizada pela defesa gaúcha. Contudo, De la Cruz e Saúl demonstraram desenvoltura ao levar a bola ao ataque, Samuel Lino causava grandes problemas a Marcos Rocha, e Arrascaeta exibia precisão quando conseguia participar ativamente. As pressões na saída de bola também não estiveram devidamente ajustadas, permitindo algum desafogo aos gremistas, que conseguiram manter um ritmo morno por ao menos 25 minutos da primeira etapa. O cenário não se alterou no retorno para o segundo tempo, especialmente no que tange à pouca capacidade do Grêmio em criar perigo em contra-ataques, com muitos erros nas transições ofensivas.

Manter o Flamengo por tanto tempo próximo da própria área é uma situação que, em algum momento, tende a ser punida. E foi o que aconteceu na única ocasião em que o Rubro-Negro encontrou espaços na intermediária ofensiva. Cristian Olivera cometeu um erro crucial em um contra-ataque, expondo o movimento de saída do Imortal. Samuel Lino serviu Arrascaeta , que tabelou com Pedro antes de finalizar com maestria, abrindo o placar no Maracanã.

Filipe Luís promoveu a entrada de Luiz Araújo no lugar de Plata logo após o gol, mas o Flamengo não reduziu o ritmo. Poderia ter ampliado rapidamente em uma cobrança de falta de De la Cruz e em uma cabeçada firme de Léo Pereira , mas Volpi brilhou novamente. Mano Menezes, por sua vez, realizou três substituições antes dos 20 minutos, trocando Braithwaite, Cristian Olivera e Edenílson por Cristaldo, Aravena e Pavón, respectivamente.

Preciosismo Fatal e a Reação Gremista

Com as mudanças, o Grêmio, naturalmente, tornou-se mais ofensivo. Carlos Vinícius continuava sendo o principal alvo dos passes diretos, mas agora contava com opções para tabelar com Cristaldo, Aravena e Pavón. Marlon também se soltou um pouco mais pela esquerda. No entanto, converter essa nova realidade em chances claras de empate não foi uma tarefa simples. Mesmo com uma postura de marcação menos intensa, o Flamengo protegia bem sua área.

O time da casa, apesar de encontrar soluções com maior facilidade ao se aproximar da meta rival, pecou pela imprecisão técnica e por um excesso de preciosismo na finalização dos ataques. Em algumas jogadas, a simplificação teria sido mais eficaz. Filipe Luís esperou a marca dos 30 minutos para promover as entradas de Evertton Araújo e Bruno Henrique, substituindo De la Cruz e Pedro .

Já Mano Menezes utilizou suas últimas cartadas com as entradas de André Henrique e Wagner Leonardo nos acréscimos, com Carlos Vinícius e Dodi deixando o campo. Noriega foi deslocado para a função de volante. A partida estava aberta, e o placar mínimo manteve o Tricolor vivo em campo. A postura de luta demonstrada foi fundamental para o que viria a seguir. Pavón recebeu um lançamento preciso de Cristaldo nas costas de Ayrton Lucas e cruzou; a bola, então, tocou no braço do lateral dentro da área, resultando na marcação do pênalti. Tiago Volpi, com serenidade, converteu a cobrança aos 39 minutos. Já com Emerson Royal na vaga de Varela nos instantes finais, os cariocas tentaram pressionar, mas não tiveram a eficácia necessária para criar mais nada, consolidando o empate.