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Flamengo: Vetos Presidenciais e o Padrão de Intervenções na Gávea
Por Redação Flapress em 08/07/2025 10:10
O ambiente no Flamengo, em especial no que tange às decisões do futebol, tem sido marcado por uma notável turbulência. O recente episódio envolvendo o diretor executivo José Boto alcançou seu ponto máximo com a intervenção do presidente Bap, que barrou a aquisição de Mikey Johnston. O jogador, que já tinha passagens aéreas para exames médicos e a formalização do vínculo, viu seus planos alterados abruptamente. Contudo, esta não é uma ocorrência isolada na história recente do Rubro-Negro.
O cenário atual ecoa situações pretéritas, onde a cúpula presidencial exerceu seu poder para alterar rumos já traçados pelo departamento de futebol. Uma análise retrospectiva revela um padrão de intervenções que, por vezes, surpreendeu o elenco, a comissão técnica e até mesmo os próprios jogadores.
O Recente Veto: Mikey Johnston e o Desgaste Interno
A situação de Mikey Johnston, atacante do West Bromwich, ilustra bem a dinâmica em questão. Monitorado pela equipe de scout liderada por José Boto, o atleta havia aceitado a proposta para um contrato de quatro anos. O departamento de futebol enxergava sua chegada como um reforço para compor o elenco , com a aprovação do técnico Filipe Luís.
Entretanto, a percepção sobre o perfil do reforço gerou insatisfação em setores do clube. Mikey Johnston foi comparado a Juninho, contratado em janeiro do Qarabag, e o valor de sua transação, estimado em cerca de R$ 37 milhões, foi alvo de questionamentos internos. Embora um relatório médico sobre o histórico de lesões do jogador tenha sido usado como justificativa para o recuo do Flamengo ? a última lesão do atacante, no tornozelo, ocorreu em março de 2022, segundo o Transfermarkt ?, a repercussão negativa junto à torcida nas redes sociais e a pressão de figuras influentes da gestão foram determinantes. Dirigentes, conselheiros e vozes atuantes tanto na Gávea quanto no Ninho do Urubu pressionaram o presidente Bap, que, em última instância, decidiu pelo veto.
Padrão de Intervenções: Quando a Gávea Diz Não
A história do Flamengo nos últimos anos é pontuada por casos em que acordos avançados foram desfeitos por decisões superiores. Essas intervenções, muitas vezes, surgem de pressões políticas, financeiras ou da percepção do momento esportivo dos atletas envolvidos. Abaixo, detalhamos alguns dos episódios mais emblemáticos:
Jogador | Ano do Veto | Motivo Alegado (Pelo Clube/Presidente) | Contexto Adicional |
---|---|---|---|
Mikey Johnston | 2024 | Valor contestado (R$ 37 milhões), histórico médico, repercussão negativa da torcida, pressão interna. | Diretor José Boto desgastado, busca por jogador para compor elenco. |
Gabigol | 2023 | Declínio esportivo, alto valor do novo vínculo (contrato de 5 anos até 2028). | Acordo verbal já celebrado, planejamento de anúncio em andamento. |
Andreas Pereira | 2022 | Questões sobre lisura da negociação, valores envolvidos, pressão da torcida (erro na Libertadores). | Compra de 75% por 10 milhões de euros acertada com Manchester United. |
Rafinha | 2021 | Questões políticas, "guerra política" interna, perda de receitas (pandemia). | Queria retornar após sair do Olympiacos, acordo inicial com departamento de futebol. |
Gabigol: A Reviravolta Inesperada na Renovação
Um dos episódios mais recentes e com maior impacto, dada a estatura do atleta, foi o de Gabigol. Em 2023, o atacante, figura central da segunda geração mais vitoriosa do Flamengo , estava próximo de estender seu vínculo. Havia um desejo da diretoria de renovar por cinco anos, enquanto o jogador almejava completar uma década no clube. Em outubro do ano anterior, o departamento de futebol e o estafe do atleta chegaram a um entendimento para um contrato que se estenderia até o final de 2028, com um aumento salarial considerável.
O acordo verbal foi celebrado, e Gabigol chegou a receber congratulações de alguns diretores, que contataram seus familiares para festejar o iminente novo ciclo. Enquanto aguardava a minuta para a assinatura, o atacante planejou o anúncio da renovação, e sua equipe de assessoria esteve no Ninho do Urubu para produzir material de divulgação. Contudo, o documento nunca chegou, e o silêncio se instalou, deixando o jogador e seu empresário em compasso de espera.
A paralisação da assinatura veio do presidente Rodolfo Landim, após intensa pressão de seus pares nos corredores da Gávea. Internamente, as justificativas apresentadas foram o declínio no desempenho esportivo do jogador e o elevado custo previsto no novo contrato.
Andreas Pereira: O Acordo Desfeito e as Pressões Externas
Em 2022, Andreas Pereira, volante belga naturalizado brasileiro, vivenciou uma situação similar. Emprestado pelo Manchester United, o Flamengo havia acordado em fevereiro daquele ano a aquisição de 75% dos direitos econômicos do jogador por 10 milhões de euros (cerca de R$ 60 milhões). Marcos Braz e Bruno Spindel, representantes do United, e os empresários Kia Joorabchian e Giuliano Bertolucci, celebraram o acordo em Londres.
No entanto, o negócio começou a enfrentar obstáculos. Inicialmente, a ação do Banco Central, que cobrava R$ 127 milhões na Justiça, foi usada como argumento. Posteriormente, uma série de questionamentos surgiu na Gávea. Informados pela pressão da torcida, que ainda tinha viva a memória do erro do jogador na final da Libertadores, dirigentes levantaram dúvidas sobre a transparência da negociação, os valores e, principalmente, a antecipação do desfecho por Braz e Spindel. Landim foi pressionado a postergar a decisão.
Mesmo após a questão com o Banco Central ser resolvida, as vozes contrárias à aquisição cresceram. Apesar de Landim ter assegurado a Andreas que o acordo seria honrado, o conflito político se arrastou, a negociação estagnou e o prazo final expirou. Braz e Spindel ainda tentaram alternativas ao final do empréstimo, mas sem sucesso. A cláusula de 20 milhões de euros, com o empréstimo gratuito, já era vista como o limite aceitável pelos ingleses.
Rafinha: O Retorno Negado por Conflitos Internos
Em fevereiro de 2021, após rescindir com o Olympiacos, Rafinha, peça fundamental do time multicampeão de 2019, manifestou o desejo de retornar ao Flamengo . O lateral-direito havia alcançado um entendimento inicial com o departamento de futebol, mas foi alertado sobre a necessidade de um aval financeiro do clube para prosseguir. No mês seguinte, durante uma partida contra o Resende no Maracanã, Landim comunicou o veto a Marcos Braz e Spindel, que, por sua vez, foram à casa do jogador para informar a decisão.
Ricardo Scheidt, um dos empresários de Rafinha, tentou mediar um ajuste com o Flamengo , mas não houve avanço. No encontro com o lateral, os dirigentes rubro-negros afirmaram que a decisão não era financeira, mas sim política. Em nota oficial, o clube alegou que não conseguiu viabilizar em seu orçamento o espaço necessário para a contratação, citando a perda de receitas devido à pandemia de Covid-19 como um dos motivos.
Dias depois, em entrevista ao "seleção sportv", o lateral declarou ter sido vítima de uma "guerra política" entre o departamento de futebol e a alta cúpula do clube, da qual Bap fazia parte, ao lado de outros vices-presidentes e Landim. Rafinha refutou a justificativa financeira. O embate interno no caso Rafinha tornou ainda mais evidente a desarticulação entre o Ninho do Urubu e a Gávea, um padrão que parece persistir até os dias atuais.
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