Flamengo Domina Receitas: A Verdade Financeira dos Clubes Brasileiros

O cenário financeiro do futebol brasileiro em 2024 revela contrastes marcantes e um desafio persistente de gestão. O conjunto dos clubes encerrou o ano com um passivo impressionante, superando a marca de R$ 20 bilhões em dívidas. Este panorama, que inclui os 20 participantes da Série A daquele ano e os quatro que ascenderam da Série B, aponta para uma realidade complexa, onde a saúde financeira de algumas instituições contrasta fortemente com as dificuldades de outras.

A recente reunião entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os clubes, realizada no Rio de Janeiro, teve como pauta central o debate sobre o fair-play financeiro, uma discussão mais do que pertinente diante dos números apresentados. A análise dos demonstrativos contábeis, que se tornou possível após a divulgação do último balanço pelo Botafogo, no dia 8, mesmo com atraso em relação ao prazo legal de abril para os aderentes ao Profut, oferece uma visão detalhada das receitas totais, do superávit ou déficit anual e do passivo acumulado de cada entidade.

No cômputo geral, o futebol nacional gerou uma receita total de R$ 11,3 bilhões, um volume significativo que, no entanto, foi ofuscado por um déficit consolidado de R$ 1,5 bilhão e uma dívida acumulada que beira os R$ 20,9 bilhões. Este desequilíbrio aponta para a necessidade urgente de estratégias mais eficazes de gestão e sustentabilidade financeira no esporte.

Receitas Recordes: O Domínio Financeiro do Flamengo

No quesito faturamento, o Flamengo consolidou sua posição de liderança, registrando uma receita bruta de R$ 1,3 bilhão em 2024. Este feito não apenas o coloca no topo do ranking nacional, mas também representa um marco histórico para o próprio clube, evidenciando a robustez de sua gestão financeira. O Palmeiras, com R$ 1,2 bilhão, e o Corinthians, que alcançou R$ 1,1 bilhão, também se destacaram ao ultrapassar a barreira do bilhão, estabelecendo novos recordes de arrecadação em suas respectivas histórias. É notável que, no mesmo período, o Flamengo celebrou os títulos do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil, enquanto o Palmeiras conquistou o Campeonato Paulista e o Corinthians encerrou o ano sem troféus na modalidade masculina, o que sublinha a capacidade do Rubro-Negro de traduzir seu sucesso esportivo em resultados financeiros.

Ainda entre os cinco maiores arrecadadores, figuram o São Paulo, com R$ 731,9 milhões, e o Botafogo, que, apesar de ter sido um dos principais protagonistas esportivos da temporada, registrou R$ 719,7 milhões em proventos. Ambos os clubes também alcançaram receitas inéditas. O volume total movimentado pelos 24 clubes analisados no futebol brasileiro atingiu a expressiva cifra de R$ 11,3 bilhões, com a Série A respondendo por R$ 10,5 bilhões desse montante.

A ascensão de clubes da Série B também trouxe surpresas no panorama financeiro. O Santos, mesmo vindo da segunda divisão, demonstrou um poder de arrecadação notável, somando R$ 408,5 milhões. Esse valor superou o faturamento de nove equipes da elite, incluindo tradicionais como Cruzeiro (R$ 320,1 milhões), Vasco (R$ 396,1 milhões), Fortaleza (R$ 277,7 milhões) e Bahia (R$ 277,6 milhões). Curiosamente, o Athletico-PR, rebaixado, apresentou uma receita ligeiramente superior à do Santos, com R$ 449,5 milhões, enquanto Sport, Ceará e Mirassol, os outros três clubes que subiram de divisão, somaram juntos R$ 390,3 milhões.

Para ilustrar a disparidade e os recordes de faturamento, apresentamos a tabela das principais receitas de 2024:

O Equilíbrio Financeiro: Quem Terminou no Azul e no Vermelho

Quando se trata de superávit ou déficit, a realidade é ainda mais restritiva: somente oito das 24 entidades analisadas conseguiram encerrar o ano fiscal com saldo positivo. O Palmeiras se sobressaiu neste quesito, registrando um superávit de R$ 198,1 milhões. Esse desempenho notável foi impulsionado, em grande parte, pela venda de atletas, que gerou R$ 440,3 milhões, quase o dobro do valor inicialmente projetado. Adicionalmente, o acordo com a WTorre, administradora do Allianz Parque, contribuiu com R$ 153 milhões em repasses e valores do acordo, demonstrando a eficácia da gestão em superar as projeções orçamentárias em diversas frentes.

Outros clubes que também apresentaram superávit financeiro foram Cuiabá, Grêmio, Juventude, Bragantino, Athletico-PR, Mirassol e Fluminense. É interessante notar que, entre os que operaram no azul, há tanto equipes que foram rebaixadas quanto uma que conquistou o acesso, indicando que a saúde financeira nem sempre se alinha diretamente com o sucesso esportivo imediato em termos de divisão.

No outro extremo, figuram os clubes com os maiores déficits. O Botafogo e o Atlético-MG lideram essa lista negativa, ambos com prejuízos de R$ 299 milhões. É relevante mencionar que ambos os clubes, que foram finalistas da Libertadores e da Copa do Brasil, respectivamente, operam sob o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O Botafogo, apesar de ter tido uma arrecadação recorde de R$ 719,7 milhões, não conseguiu evitar o resultado negativo, enquanto o Atlético-MG somou R$ 615 milhões em receitas.

Completam a lista dos cinco maiores prejuízos financeiros em 2024 o São Paulo, com um déficit de R$ 287,6 milhões, o Bahia, com R$ 246,5 milhões, e o Corinthians, que registrou R$ 181,7 milhões negativos, sendo este o único clube, entre os cinco com maior prejuízo, a ter uma receita bilionária. Em suma, o saldo negativo acumulado do futebol brasileiro, após subtrair os superávits, atingiu a preocupante marca de R$ 1,5 bilhão em 2024.

A seguir, uma tabela com os maiores déficits dos clubes brasileiros em 2024:

A Montanha de Dívidas: O Passivo Bilionário dos Clubes

O panorama das dívidas acumuladas revela um dos maiores desafios do futebol nacional. Ao considerar o passivo total, que engloba tanto as obrigações de curto prazo (circulante, até 12 meses) quanto as de médio e longo prazo (não circulante, acima de um ano), constatamos que dez dos 24 clubes analisados possuem endividamentos que superam a marca do bilhão de reais. Dentre eles, Corinthians e Atlético-MG se destacam negativamente, sendo os únicos a ultrapassar os R$ 2 bilhões em passivo.

A situação do Corinthians é particularmente preocupante. Sua dívida, já elevada, sofreu um aumento significativo, atingindo R$ 2,4 bilhões. Desse montante, R$ 1,8 bilhão corresponde a débitos do próprio clube, somados a R$ 668 milhões referentes ao financiamento da Neo Química Arena. Este incremento representa um salto de aproximadamente R$ 600 milhões em apenas um ano, dado que o passivo corintiano era de R$ 1,9 bilhão ao final de 2023. Mais alarmante ainda é o volume de dívidas de curto prazo, com R$ 1,27 bilhão exigível em até um ano.

O Atlético-MG, por sua vez, considera o passivo do clube em R$ 1,8 bilhão. Isso porque, dos R$ 2,3 bilhões apontados no balanço financeiros, a diretoria do Galo abate as receitas antecipadas a curto prazo (R$ 120 milhões), a longo prazo (R$ 433 milhões) e o total em caixa, no fim de 2024 (R$ 9 milhões). Além desses dois, outros clubes com passivo superior a R$ 1 bilhão incluem São Paulo (R$ 1,8 bilhão), Botafogo (R$ 1,5 bilhão), Palmeiras e Bahia (ambos com R$ 1,4 bilhão), Cruzeiro (R$ 1,3 bilhão), Internacional e Vasco (ambos com R$ 1,2 bilhão), e o Flamengo , com R$ 1,11 bilhão. O montante total da dívida acumulada pelos 24 clubes analisados atinge a impressionante soma de R$ 20,9 bilhões, um número que exige reflexão profunda e ações coordenadas para a sustentabilidade do esporte no país.

Abaixo, a tabela dos passivos acumulados pelos clubes brasileiros em 2024: