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Ex-Diretor do Flamengo Expõe Tentações por Jorge Jesus e Impacto do Caso Pedro
Por Redação Flapress em 08/10/2025 12:21
Bruno Spindel, figura central nas gestões de Eduardo Bandeira de Mello e Rodolfo Landim, os dois últimos presidentes do Flamengo, teve seu ciclo como diretor executivo encerrado por Luiz Eduardo Baptista, paradoxalmente, o mesmo dirigente que o introduziu no clube. Sua saída ocorreu apenas oito meses após Bap assumir a presidência, período em que Spindel, considerado o "homem forte" do departamento de futebol nos anos recentes, viu sua influência diminuir progressivamente.
Sua trajetória no clube começou no final de 2012, no departamento de marketing, onde colaborou com Bap na renegociação do contrato com a Adidas. Permaneceu nessa área até 2018, ano em que foi alçado ao posto de CEO por Bandeira de Mello. Com a posse de Landim em janeiro de 2019, Spindel cedeu a posição a Reinaldo Belotti, assumindo oficialmente a direção de futebol em junho do mesmo ano.
Ao longo de quase 13 anos, Spindel dedicou mais da metade desse período a uma das posições mais estratégicas no futebol flamenguista, celebrando a conquista de 13 títulos como diretor executivo. Em um recente depoimento, o ex-dirigente abordou detalhadamente os temas que dominaram as discussões e os bastidores do clube nos últimos anos.
A Ascensão e a Saída de um Dirigente Chave no Flamengo
O ex-diretor executivo do clube identificou o incidente da agressão sofrida por Pedro, envolvendo o preparador Pablo Fernández, como o desafio mais complexo de sua gestão. Ele reconheceu que o episódio teve repercussões significativas no desempenho esportivo da equipe, que encerrou 2023 sem nenhuma taça. Spindel detalhou os bastidores desse momento conturbado:
Acho que crise mais difícil foi a agressão ao Pedro. Foi muito difícil de tomar as decisões, dar apoio total ao Pedro, aparar todas as arestas para voltar ao trabalho. É óbvio que teve consequências, o time estava voando naquele momento, vínhamos de uma atuação impecável contra o Grêmio e a quebra do tabu com o Atlético-MG. Aconteceu a crise do jeito que foi e tirou o trabalho dos trilhos. Foi a crise mais difícil e que teve mais consequências.
Ao ser questionado sobre a manutenção do técnico Jorge Sampaoli após o ocorrido, Spindel reiterou a complexidade da situação: "Era uma decisão muito complexa. Muito difícil. O ocorrido teve consequências na performance esportiva durante a temporada, isso não tem dúvida. A gente estava brigando para ser campeão brasileiro, desempenhando muito bem, acreditávamos de verdade que daria para brigar e até sair campeão nas três competições. Mas é óbvio que o ocorrido teve consequência. É difícil falar se tomaria outra decisão ou não, mas, com certeza, teve consequência para o resto da temporada. A saída do Paulo Sousa foi complicada, mas a gente conseguiu corrigir o rumo e saímos campeões da Libertadores e da Copa do Brasil."
O Impacto do Caso Pedro: Uma Ferida Aberta na Temporada
Pela primeira vez, um membro da antiga cúpula do departamento de futebol do Flamengo revelou a quantidade de vezes que o clube tentou o retorno de Jorge Jesus. O treinador português, que deixou o Rubro-Negro em 2020, permaneceu uma figura onipresente, pairando como uma sombra sobre todos os seus sucessores.
Acho que umas três (risos). Uma coisa que não ficou clara é que a gente tentou muito o Jorge (Jesus). A gente encontrou com ele, jantou com ele, mas havia uma situação muito incerta do Jorge no Benfica, que obviamente dependia do desempenho dele e da equipe e isso ninguém pode controlar. Se ele ficasse vivo na disputa do Campeonato Português, vivo na Copa de Portugal, tinha a Champions também... seria impossível o Jorge (Jesus) vir. E aí a gente contratou o Paulo Sousa. A gente tentou também quando não renovamos com o Dorival, mas em todas as vezes que a gente tentou o Jorge tinha um impedimento contratual. E quando o Sampaoli veio, ele estava no final do contrato do Fenerbahçe e com uma proposta pesada da Arábia Saudita ou estava no Al Hilal, não me lembro. Mas foram três vezes que nós conversamos com o Jorge para voltar e que a situação profissional dele impedia que ele voltasse para o Flamengo. Mas, de fato, a gente tentou.
Jorge Jesus: As Inúmeras Tentativas de um Retorno Frustrado
Durante seu período sob a presidência de Bap, Spindel percebeu uma diminuição de sua influência no departamento de futebol. Apesar de manter um bom relacionamento com o presidente, os oito meses foram marcados por uma participação limitada nas decisões cruciais, focando-se em fornecer informações a José Boto, o novo diretor, para uma transição de gestão tranquila.
As relações foram saudáveis. O que participei mais foi fornecer informação do passado, de característica dos atletas e da estrutura mais do que participar do processo de decisão e de negociação. Acho que fui importante para que se fizesse uma transição sem qualquer tipo de descontinuidade, sem qualquer ruído para o clube não perder informação e conhecimento. Fiz tudo da forma mais profissional possível com o presidente e com o Boto. A relação com os atletas, com o Filipe e com os funcionários se mantém as mesmas. Mas, especificamente do meu trabalho, meu papel foi esse: passar tudo o que tinha do histórico para trás para não ter nenhuma descontinuidade. Tinha alguns pontos de contratos, por exemplo, o Plata tinha um bônus que o Flamengo tinha que ficar atento financeiramente. Procurei ser profissional e colocar o Flamengo acima de tudo para contribuir com o que eles precisassem para poder seguir adiante e procurei ser leal ao presidente e ao clube. Mas agora estou de baterias recarregadas, pronto para o próximo desafio.
Questionado sobre as críticas à suposta falta de profissionalismo no departamento de futebol do Flamengo , Spindel defendeu a estrutura implementada. Ele argumentou que a área de transição, sob a liderança de Noval, gerou receitas significativas com a venda de jogadores como Yuri César, Jean Lucas, Natan e Rodrigo Muniz. Mencionou o controle de minutagem para atletas em formação, a estrutura médica e de fisioterapia avançada, e o investimento em gramados do CT. Além disso, enfatizou a contratação de analistas de desempenho e a criação de uma área de ciência de dados.
A Professionalização do Futebol e o Legado de Spindel
A percepção de amadorismo, segundo Spindel, pode ter sido um problema de comunicação.
Talvez a gente não tenha se comunicado tão bem de expor isso que estou expondo aqui agora.
Sobre a área de scout e o processo de contratação, Spindel garantiu que o setor era sempre consultado. Ele citou Pablo Marí e Gerson como exemplos de atletas que chegaram ao Flamengo por meio de um trabalho minucioso de análise, destacando que, no caso de Gerson , havia dúvidas iniciais sobre sua intensidade e compreensão tática, dissipadas pela visão do scout. Rodrigo Caio, apesar de um momento difícil no São Paulo, também foi uma aposta baseada em convicção tática.
O ex-diretor ressaltou que nenhum jogador era contratado sem a aprovação do scout, que envolvia a análise de, no mínimo, 15 jogos completos por cada analista, seguindo uma metodologia clara. Treinador, diretoria e presidência participavam das decisões, tomadas em reuniões estruturadas entre scout e comissão técnica. O monitoramento de jogadores como Alcaraz, acompanhado por diferentes chefes de scout ao longo do tempo, ilustra a continuidade do processo.
O Olhar Estratégico do Scout: Acertos e Processos no Ninho
A respeito de Alcaraz, Spindel discorda da percepção de que o valor pago foi excessivo para um atleta que não rendeu o esperado. Ele defendeu que o preço foi justo, considerando que o jogador foi posteriormente transferido da Argentina para a Europa por um valor similar e teve uma boa temporada na Premier League.
O valor a gente acertou. Se você for ver, ele foi por quase esse valor da Argentina para a Europa. Fez uma boa temporada no Southampton na Premier League, que é a liga mais competitiva do mundo. A gente já tinha tentado contratar ele algumas vezes, acho que ele saiu muito rápido do Flamengo. Jogou três meses depois saiu, de uma forma acelerada, sem deixar maturar o jogador e criar mercado para ele, o valor foi quase o mesmo do valor que o atleta foi comprado. Então, o preço foi correto. Foi um jogador aprovado pelo scout, que podia cumprir várias funções, tanto que está jogando na Premier League. Acho que ele precisava de mais tempo para desempenhar, tanto que foi para o Everton e jogou uma série de jogos como titular. Eu respeito a decisão e decisões nunca são fáceis de tomar, mas não acredito que a contratação dele tinha sido um erro.
A prolongada negociação pela renovação de Gabigol, que durou mais de um ano e, apesar de um acordo inicial, não se concretizou, também foi abordada. Spindel expressou profunda gratidão ao jogador, reconhecendo-o como um dos maiores artilheiros e ídolos da história do Flamengo , ao lado de Zico, como os únicos a marcar em finais de Libertadores. Ele lamentou o desfecho turbulento do processo, mas enfatizou a importância da história vitoriosa construída. A decisão de não renovar com um atleta de tamanha representatividade foi, sem dúvida, uma das mais difíceis, revelando o lado humano por trás das escolhas profissionais.
Mercado de Transferências: Desafios e Decisões Cruciais
A gestão de Landim foi marcada por uma alta rotatividade de técnicos, com 11 profissionais diferentes nos últimos seis anos e cinco demissões (Domènec Torrent, Rogério Ceni, Paulo Sousa, Vítor Pereira e Tite), gerando mais de R$ 50 milhões em multas rescisórias. Spindel reconheceu o custo, mas defendeu o modelo esportivo vencedor, citando os títulos conquistados com Abel Braga, Jorge Jesus, Rogério Ceni, Paulo Sousa (Taça Guanabara), Dorival Júnior, Tite e Filipe Luís.
Sim, mas a gente foi campeão com o Abel, Jesus, Ceni, Paulo Sousa (Taça Guanabara), Dorival, Tite e Filipe. A gente tinha um modelo esportivo vencedor, mas é claro que preferia ter mantido um treinador por mais tempo. Às vezes, acontecem coisas. Por vezes, a decisão da troca não foi do Flamengo, como no caso do Abel e do Jesus. O Renato foi comum acordo. Algumas trocas não foram decisões nossas, outras sim. Dorival foi fim de contrato. A gente vai corrigindo rota e fazendo melhor da próxima vez. Geramos mais de R$ 1 bilhão em receita de premiação. Em 2025, só com a venda de Gerson, Fabrício Bruno e Wesley, o Flamengo conseguiu mais de 60 milhões de euros. Os valores no Flamengo têm outra escala. Óbvio que cada centavo conta e a gente é o mais responsável possível. Ajustamos alguns contratos de multas. Quando demitimos um treinador, havia uma razão interna. Não gostaríamos de tomar essas decisões, mas muitas vezes o treinador seguinte foi campeão. Isso não quer dizer que o anterior não tenha contribuído. Cada treinador teve sua contribuição. Na maioria das demissões, acabamos sendo campeões depois. Óbvio que a gente preferia que o Jesus não tivesse ido embora em 2020, mas foi um período muito complicado da pandemia, que afetou nossa saúde mental e a saúde financeira do clube.
A Volatilidade do Banco de Reservas: Uma Análise das Trocas de Técnicos
Detalhando o episódio da agressão a Pedro , Spindel narrou os passos imediatos tomados pela diretoria:
A primeira coisa que eu e Braz fizemos foi dar todo apoio ao Pedro. Fomos conduzindo as ações que precisavam ser conduzidas. Demos suporte na delegacia ao Pedro, conversamos com o pai, os empresários... Eu e Braz nos dividimos. O Braz voltou com a delegação e eu fiquei com o Pedro. Cebolinha, Pablo e Thiago Maia ficaram com a gente, e o preparador físico Pablo e o Andreata (coordenador do Sampaoli) também ficaram. Cada um foi para um hotel. Acompanhamos o Pedro no corpo delito, fretamos um jato para voltamos para o Rio no dia seguinte. Tivemos conversas com o Pedro e com os empresários para aparar as arestas. Era uma situação muito difícil. Demos todo apoio ao Pedro para ele se reintegrar e o Pablo foi demitido. Tentamos colocar o trabalho nos eixos, mas ficou uma trinca em todas as relações, teve suas consequências. Nós tentamos aparar as arestas. Demos o suporte para o Pedro desempenhar o melhor possível, primeiro toda a questão pessoal e depois o lado esportivo.
A não renovação do contrato de Dorival Júnior, mesmo após a conquista da Libertadores e da Copa do Brasil, foi outra decisão polêmica. Spindel esclareceu que a conversa com Jorge Jesus ocorreu após a decisão de não renovar com Dorival e que a escolha não foi unilateral. Ele mencionou que a proposta financeira inicial do procurador de Dorival foi "muito dura" e que, em determinado momento, as partes não se aproximaram.
Além das questões financeiras, Spindel indicou que "tiveram questões técnicas que eu me reservo no direito de não comentar", levando à opção por um caminho diferente.
A escolha por Vítor Pereira foi justificada pela diretoria por seu histórico de sucesso em Portugal, China e Grécia, sendo considerado um treinador de alto nível com referências positivas. Suas ideias de um time pressionante e com posse de bola alinhavam-se com a visão esportiva do Flamengo na época. Contudo, os resultados não foram os esperados, culminando na decisão de sua substituição.
Bastidores Quentes: De Agressões a Escolhas de Treinadores
Spindel também relembrou as negociações mais desafiadoras de sua gestão, destacando as de Bruno Henrique, Gerson , Rafinha, Filipe Luís e Arrascaeta. Ele citou a dedicação de Bruno Henrique para vir ao clube, a complexidade das tratativas com Gerson e a longa duração das negociações com Rafinha e Filipe Luís , este último envolvendo uma mudança de vida para sua família.
Um acordo que quase se concretizou foi o de Andreas Pereira. Spindel revelou que a negociação estava avançada, mas foi interrompida devido a um processo do Banco Central que imporia uma penhora de R$ 200 milhões ao Flamengo . Ele comunicou a situação ao jogador, que, segundo Spindel, demonstrou grande profissionalismo e gratidão ao Flamengo por ter reavivado sua alegria de jogar e aberto novas oportunidades.
As Negociações Mais Árduas e os Acordos Que Não se Concretizaram
Sobre o fim de seu ciclo no Flamengo , Spindel expressou orgulho do legado deixado, citando o aumento do valor do elenco de R$ 200 milhões em 2018 para R$ 1,5 bilhão em sua saída, com um planejamento para 2025 já em andamento. Ele enfatizou ter conduzido a transição da forma mais profissional possível, fornecendo todas as informações ao presidente Bap, a quem agradeceu pela confiança.
Tudo tem um ciclo. Tenho orgulho do legado que deixei: em 2018 o elenco valia R$ 200 milhões e, ao sair, estava em R$ 1,5 bilhão, com planejamento já iniciado para 2025. Havia um treinador campeão da Copa do Brasil, com contrato vigente e condições de continuidade. Conduzi a transição da forma mais profissional possível, passei todas as informações e processos para o Bap e sou grato pela confiança. Ele tem o direito de escolher o diretor do perfil que acredita ser o ideal para o futuro do clube. Coloquei o Flamengo acima de tudo para garantir uma transição suave, refletida nos títulos estaduais e da Supercopa. Após a eleição, indiquei nomes para reforçar o ataque (Gabriel Jesus, Yuri Alberto, Vitor Roque, Cucho Hernández e Luis Suárez) e alertei sobre contratos próximos do fim, como os de Pulgar, Varela, Cleiton, Matheus Cunha e sobre outros contratos como os de Gerson, Arrascaeta e Pedro. Poderia contribuir mais, mas entendo a chegada de um novo diretor com outro perfil, mais técnico. O meu é de tomada de decisão, gestão e formação de elenco. Vários profissionais formados no clube hoje estão espalhados por grandes equipes, o que mostra a base deixada. São perfis diferentes, e compreendo perfeitamente a escolha. Agradeço a confiança lá de trás.
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