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Declaração Polêmica Diretor Base Flamengo: Estereótipos e Desculpas de Alfredo Almeida

Por Redação Flapress em 14/07/2025 22:10

Uma recente manifestação do recém-nomeado diretor das categorias de base do Flamengo, Alfredo Almeida, provocou um intenso debate e críticas por parte de estudiosos e analistas do esporte. A polêmica surgiu durante sua apresentação oficial, na qual abordou as características de jogadores de diferentes regiões do mundo, gerando desconforto e questionamentos sobre a perpetuação de estereótipos raciais no futebol.

O episódio levanta uma importante discussão sobre a sensibilidade e a profundidade de conhecimento necessárias para liderar um setor tão crucial como a formação de jovens atletas em um clube da dimensão do Flamengo , especialmente em um país com a diversidade e complexidade cultural do Brasil.

A Declaração que Gerou Debate na Base Rubro-Negra

Na tarde desta última segunda-feira, no Ninho do Urubu, Alfredo Almeida, que assumiu recentemente a direção da base rubro-negra, concedeu sua primeira entrevista coletiva. Ao ser indagado sobre a possibilidade de resgatar uma suposta "magia" no desenvolvimento do atleta brasileiro, em detrimento de um foco excessivo na preparação física, o dirigente português proferiu a frase que viria a ser o centro da controvérsia:

Aquilo que o atleta brasileiro tem, provavelmente não há em mais nenhuma parte do mundo. Tem a ver com o dom, a magia, a irreverência, a bola fazer parte do corpo, a relação com a bola. Isso não existe em quase parte nenhuma do mundo. Depois, existem outras zonas do globo onde há outras valências. Como, por exemplo, a África tem valências físicas como quase nenhuma parte do mundo. Se quisermos ir para a parte mental, temos que ir a outras zonas da Europa, do globo.

A menção a "valências físicas" para a África e "parte mental" para a Europa, em contraste com a "magia" brasileira, imediatamente acendeu o alerta de especialistas, que viram na fala a reprodução de noções preconceituosas e desatualizadas sobre as capacidades humanas e atléticas, atrelando-as de forma simplista à origem geográfica.

Especialistas Contestam Estereótipos no Futebol

A declaração de Alfredo Almeida não passou despercebida pelos olhos críticos. Marcelo Carvalho, diretor do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, foi um dos primeiros a se manifestar, expressando veemente desaprovação à fala do dirigente flamenguista. Segundo Carvalho, as palavras de Almeida ecoam uma visão distorcida e sem fundamento científico.

É algo que muito se reproduziu, mas não existe estudo sobre as características específicas para jogadores europeus e africanos. Essa fala reforça estereótipos que se tinham e ainda se têm da população negra. A frase reproduz uma ideia de eugenia. Que ao europeu cabe a inteligência. E a força, aos africanos. Por mais que a gente tenha jogadores cerebrais, lideranças negras no futebol, as pessoas no futebol continuam reproduzindo essas ideias racistas.

O Observatório de Discriminação Racial, sob a liderança de Marcelo Carvalho, tem um histórico de mais de uma década monitorando e documentando casos de preconceito no futebol, divulgando anualmente levantamentos detalhados que abrangem não apenas o racismo, mas também xenofobia, machismo e LGBTfobia no cenário esportivo. Esse trabalho contínuo ressalta a importância de um discurso responsável e embasado por parte de figuras públicas do esporte.

Diversidade e Inteligência no Futebol Africano

A visão de que o continente africano se resume a uma única característica física foi amplamente refutada por Luis Fernando Filho, cofundador do podcast Ponta de Lança, uma plataforma dedicada à cobertura de esporte, cultura e política na África desde 2019. Ele enfatizou a vasta diversidade presente no futebol africano, desmistificando a ideia de uma uniformidade de estilos ou capacidades.

Não se pode conceber a África como se fosse um só país, mas um continente com diversidade. No futebol não é diferente. No norte, com o Marrocos, você vai ver um estilo muito diferente do sul, com Senegal, África do Sul. É só dar uma olhada no Mamelodi Sundowns, o jogo é muito inspirado no futebol brasileiro, de posse de bola, ofensivo (...) Se for para as seleções, você tem uma seleção que trata bem a bola, o Senegal, que nada tem a ver com aspecto físico, é muito técnica.

Luis Fernando Filho ainda complementou, destacando a evolução tática e a formação de jogadores com alta capacidade intelectual no continente: "As seleções de Senegal e do Mali estão cada vez formando mais meio-campistas. Escolas pós-Yaya Toure, da Costa do Marfim. Meias extremamente inteligentes. Escolas que vão além de formar atacantes." Essas observações servem como um contraponto direto à generalização simplista de Almeida, evidenciando a riqueza tática e técnica que emerge das diversas escolas de futebol africanas.

O Pedido de Desculpas e o Futuro da Base do Flamengo

Diante da repercussão negativa, a assessoria de imprensa do Flamengo divulgou um pedido de desculpas de Alfredo Almeida, onde o dirigente buscou esclarecer suas intenções e se retratar pela forma como suas palavras foram interpretadas. O trecho principal de sua nota afirma:

Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de soar discriminatório.

Alfredo Almeida chegou ao Flamengo em janeiro de 2025, inicialmente atuando como braço direito de José Boto, diretor do futebol profissional, com foco nas categorias de base e comissão técnica. Sua ascensão ao cargo de diretor da base ocorreu na última semana, após a saída de Carlos Noval. Sua apresentação oficial como líder do setor de formação de jovens talentos rubro-negros aconteceu justamente nesta segunda-feira, momento em que a declaração polêmica foi proferida.

A íntegra da nota de Alfredo Almeida, buscando reparar o mal-entendido, reforça o compromisso com a diversidade e a ética no desenvolvimento dos atletas:

Durante a entrevista coletiva de minha apresentação como diretor da base do Flamengo, fiz uma explanação mais ampla sobre os diferentes perfis de atletas ao redor do mundo e as valências que costumam ser observadas por clubes no processo de formação e recrutamento. Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de soar discriminatório. Tenho total consciência de que há atletas com grande capacidade tática no futebol africano, assim como existem jogadores europeus com enorme talento criativo e brasileiros com impressionante força física. As características dos jogadores não se limitam à sua origem geográfica. Reforço meu respeito a todas as culturas, povos e escolas do futebol. Sigo comprometido com o trabalho de formação no Flamengo, pautado por valores como inclusão, diversidade, ética e desenvolvimento integral dos nossos atletas.

O episódio serve como um lembrete da responsabilidade que acompanha cargos de liderança no esporte, especialmente em um ambiente de formação, onde a linguagem e as ideias transmitidas moldam não apenas atletas, mas cidadãos. A repercussão da fala de Almeida sublinha a necessidade de um entendimento aprofundado sobre a complexidade das culturas e das aptidões humanas, indo além de estereótipos simplistas.

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Rafael

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Comentado em 15/07/2025 01:20 O mano pode ter se expressado mal, mas é bom ver que ele pediu desculpas e respeita a diversidade no futebol.
João

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Comentado em 14/07/2025 23:50 Alfredo vacilou na fala, mas blz, vamos focar no Mengão!
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