Carrascal no Flamengo: A Perseguição de Uma Década de José Boto

A recente performance de Carrascal, notadamente com o gol decisivo na vitória por 1 a 0 sobre o Racing na semifinal da Libertadores, não é apenas um feito momentâneo. Ela representa a concretização de uma busca minuciosa e persistente que se estendeu por quase uma década nos bastidores do futebol. Para o Flamengo, a negociação que culminou na chegada do atleta durou aproximadamente dois meses, um período relativamente breve considerando a complexidade do mercado. Contudo, sob a ótica do diretor de futebol José Boto, a história é bem mais longa, marcando uma jornada de nove anos de observação e tentativas frustradas de contratação, que agora se materializa com o colombiano como um dos pilares do time rubro-negro.

A espera pelo jogador no Rio de Janeiro, portanto, transcende a mera tramitação de documentos. Ela simboliza a paciência estratégica e a convicção de um dirigente que enxergou em Carrascal um potencial diferenciado muito antes de sua ascensão ao cenário atual. Com o resultado favorável no jogo de ida, o Flamengo agora tem a vantagem de um empate no Cilindro, em Avellaneda, para assegurar sua vaga na final, um cenário onde a presença e o talento de Carrascal serão, sem dúvida, cruciais.

A trajetória de Carrascal no radar de José Boto remonta a 2016. Após iniciar sua carreira no Millonarios, da Colômbia, o meio-campista transferiu-se para a Espanha, integrando as equipes sub-19 e, posteriormente, B do Sevilla. Foi nesse contexto que o jovem talento chamou a atenção de Boto, que à época exercia a função de chefe do departamento de scouting do Benfica, em Portugal. Sua passagem pelo clube português foi notória pela capacidade de identificar e desenvolver talentos pouco conhecidos, que sob sua gestão, alcançaram projeção e foram negociados por valores expressivamente superiores aos de aquisição. A estratégia de Boto incluía monitorar atletas de equipes de base de grandes clubes europeus, revelando nomes como Álex Grimaldo (ex-Barcelona B) e Javi García (ex-Real Madrid B). Carrascal, nesse cenário, tornou-se um alvo primordial.

A Visão Persistente de José Boto

A persistência de José Boto na busca por Carrascal não se limitou ao período no Benfica. Em 2018, ao assumir a chefia do departamento de scouting do Shakhtar Donetsk, na Ucrânia, ele fez sua primeira tentativa formal de contratar o jogador. Naquele momento, Carrascal defendia o Karpaty Lviv, também na Ucrânia, por empréstimo do Sevilla. Apesar do interesse sinalizado pelo diretor, o elevado valor exigido pelos espanhóis inviabilizou o negócio, levando à desistência temporária da transação.

A oportunidade de reavivar o interesse surgiu em 2021. O então novo técnico do Shakhtar, Roberto De Zerbi, solicitou a contratação de Carrascal a Boto. O meio-campista, nesse ínterim, já havia se consolidado como uma peça importante no River Plate, da Argentina. Novamente, o diretor empreendeu esforços para negociar, mas, mais uma vez, não obteve sucesso em chegar a um acordo com o clube argentino, postergando o reencontro profissional entre ambos.

Após quase uma década de monitoramento e tentativas frustradas, os caminhos de Carrascal e José Boto finalmente se cruzaram no Flamengo . O meio-campista figurava entre os nomes prioritários na lista do diretor de futebol, que, após anos de insistência, conseguiu iniciar as negociações. Contudo, a concretização da transferência não foi um processo simples, exigindo grande habilidade e estratégia por parte da diretoria rubro-negra.

A Complexidade da Negociação Final

Carrascal, na ocasião, era jogador do Dínamo de Moscou, da Rússia, que manifestava relutância em vender o atleta. Para dissuadir o Flamengo , o clube russo inicialmente estipulou um valor de 15 milhões de euros (equivalente a R$ 96 milhões na cotação da época). A diretoria rubro-negra, no entanto, manteve-se firme em sua posição, o que levou à redução da pedida para 12 milhões de euros (R$ 77 milhões), com a condição de pagamento à vista. Esse modelo de negócio, contudo, não se alinhava com a estratégia do Flamengo , que visava evitar um precedente que pudesse inflacionar outras negociações em andamento no mercado.

O próprio jogador desempenhou um papel fundamental para o desfecho positivo. Durante a Data Fifa de junho, onde Carrascal estava com a seleção colombiana para jogos contra Peru e Argentina, ele aguardava o desenrolar das negociações, optando por tirar férias na expectativa de não precisar retornar à Rússia. Seu desejo de permanecer na América do Sul o levou a pressionar o Dínamo de Moscou, embora sem sucesso imediato. Com a postura intransigente dos russos, Carrascal se apresentou para a pré-temporada em Moscou, mas sua mente já estava focada no Flamengo .

A negociação só encontrou seu caminho para a finalização quando o Dínamo de Moscou adquiriu o jogador Rubens, do Atlético-MG. Essa transação abriu uma janela para o Flamengo . O clube rubro-negro articulou um acordo para repassar o pagamento dos russos ao Galo, de forma parcelada, facilitando a aquisição de Carrascal. A negociação foi concluída pelo valor de 12 milhões de euros (aproximadamente R$ 77,5 milhões na cotação daquele período), selando a chegada do tão desejado meio-campista.

Carrascal: Impacto Imediato e Projeção Futura

Desde sua chegada, Carrascal tem demonstrado seu valor em campo, traduzindo a expectativa de Boto em resultados tangíveis. Sua contribuição tem sido notável, especialmente considerando o curto período de adaptação. Os números iniciais ressaltam seu impacto direto:

O desempenho de Carrascal tem sido consistentemente elogiado pela comissão técnica, incluindo o treinador Filipe Luís, que vê no colombiano um potencial significativo para se tornar um ídolo do Flamengo . Essa avaliação positiva do corpo técnico corrobora a visão de José Boto, que perseguiu a contratação do atleta por quase uma década, e sugere que o investimento e a paciência dedicados a essa aquisição podem render frutos ainda maiores para o clube carioca no futuro.