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Boto Desvenda: Como o Flamengo Seduz Nomes Importantes da Europa no Mercado de Transferências
Por Redação Flapress em 16/09/2025 09:22
José Boto, em sua jornada inicial no futebol brasileiro, enfrentou o desafio de conciliar a gestão técnica com a intensidade emocional que permeia torcidas e diretorias no país. Esta adaptação, crucial para o sucesso, permitiu ao executivo do Flamengo converter o ceticismo inicial do período de transferências em reconhecimento, especialmente após as aquisições de Samuel Lino, Saúl, Emerson Royal e Jorginho. A percepção do mercado sobre o Rubro-Negro, sob sua batuta, parece ter alcançado um novo patamar.
Em uma recente entrevista ao UOL, Boto aprofundou-se em diversos temas que moldaram sua atuação. Ele abordou as complexas situações envolvendo Pedro e De La Cruz, detalhou as ofertas recebidas por atacantes e pelo lateral Filipe Luís, e esclareceu a natureza de sua relação com o presidente Luiz Eduardo Baptista, delineando os limites de sua autonomia e as instâncias de aprovação.
Um dos pontos mais reveladores da entrevista foi a constatação de Boto de que o Flamengo se tornou um destino significativamente mais atraente para talentos do futebol europeu. O diretor chegou a revelar que figuras proeminentes e amplamente reconhecidas no Velho Continente manifestaram o desejo de vestir a camisa rubro-negra, um indicativo da crescente projeção internacional do clube.
A Ascensão do Flamengo no Cenário Europeu
A dinâmica de sua colaboração com a presidência foi um dos tópicos. Boto sublinhou a comunicação constante com o presidente, mesmo à distância, afirmando:
"Mesmo que não esteja com ele todos os dias, falo com ele todos os dias. Às vezes mais do que uma vez por dia. É óbvio que todas as decisões, principalmente aquelas que são mais sensíveis, mais estruturais, tenho que comunicar e ter a aprovação dele. Tudo aquilo que é gestão do dia a dia aqui no CT é algo que eu não comunico assim tanto com ele, porque tem essa autonomia. Agora, quando são questões, por exemplo, de contratações, que envolvem dinheiro, quem tem de dar o ok é ele. Não sou eu que disponho do dinheiro do clube para fazer como bem quero. É ele que tem que dar sempre o... como vocês dizem aqui, bater o martelo, não é?"
Esta declaração reafirma a hierarquia e a responsabilidade financeira inerentes às grandes operações.
Sobre o processo de negociações, Boto explicou a influência da venda de Gerson no comportamento do mercado.
"Aqui houve uma questão extra que fez com que as negociações demorassem um pouco mais do que aquilo que estávamos a prever. Foi o fato de termos vendido o Gerson com dinheiro à vista. E quando os clubes sabem que tivemos um encaixe de dinheiro à vista, que neste caso eram 25 milhões de euros, começam a querer que a gente pague à vista também, ou que quando vão parcelar os jogadores, que as parcelas sejam menores. E nós não quisemos nunca entrar nisso. Se déssemos a essas demandas dos outros, daríamos um mau sinal ao mercado e todos os clubes nos passariam a pedir menos parcelamento, mais dinheiro à vista".
A postura do Flamengo visava proteger sua estratégia de pagamentos futuros.
A transação de Gerson , em particular, foi cercada de especulações. Boto esclareceu que as cifras divulgadas frequentemente não correspondiam à realidade.
"Até para esclarecer aos torcedores, nunca houve uma proposta de 29 milhões (de euros), como dizem. Houve uma proposta de 18 milhões de euros, que depois poderia chegar a 28 milhões de euros, com bônus, e muitos desses bônus eram irreais. Alguns dos bônus implicavam uma possível entrada do Zenit nos campeonatos da Europa. É uma coisa que pode acontecer como pode não acontecer, pela situação política que se passa lá. Eu tive sempre a sensação de que o Gerson , apesar de ter renovado, aspirava mais salário. O que é natural, não há nenhuma crítica a ele. E percebemos também que o Zenit poderia voltar à carga. Então, baixar a cláusula foi para obrigar, no caso dele, a querer sair e recebermos o dinheiro à vista. Porque se não tivesse a cláusula, os valores eram irreais. Ninguém pagaria aquele valor pelo Gerson . Obrigaria a mais uma negociação que depois seria pago parcelado, com mais desgaste, numa altura em que nós não queríamos ter desgaste aqui. E isso foi acordado até com todo o estafe do Gérson".
Gestão de Elenco: Casos Gerson e Pedro
A situação de Pedro também foi tema de análise. Boto ressaltou que, apesar dos atritos, o desfecho foi positivo, resultando em um atacante "diferente, num Pedro que, neste momento, ajuda e muito o Flamengo e que ajuda a ele próprio na sua valorização como jogador". Ele enfatizou que "nunca houve uma intenção de vender" o jogador por valores abaixo de seu real potencial, mesmo em um período de menor utilização. A gestão do clube visava a recuperação da performance do atleta. Próximo ao encerramento da janela, uma oferta de "US$ 18 milhões, líquidos", do Al-Rayyan, do Catar, foi recusada, solidificando a permanência do atacante.
Quanto a De La Cruz, o diretor garantiu que o clube ofereceu "todo o suporte e apoio ao atleta" em um momento delicado. Boto revelou ter tido uma longa conversa com o jogador, expressando "toda a solidariedade e todo o empenho em ajudá-lo numa situação que não era fácil para ele". A prioridade, segundo ele, era assegurar que o atleta estivesse "aqui pronto para nos ajudar no que falta da temporada".
A estratégia para as recentes contratações foi detalhada. Samuel Lino, por exemplo, era o "alvo número um" desde o início da temporada, mesmo com a concorrência de clubes europeus campeões. O convencimento do jogador sobre os benefícios de retornar ao Brasil e ao Flamengo para sua carreira foi fundamental. Já Saúl representou uma "oportunidade" de mercado, surgindo após saídas inesperadas e a necessidade de reforçar o meio-campo devido à lesão de Erick Pulgar. A negociação por Saúl foi célere, concretizada em uma única noite, com o jogador já a caminho da Turquia.
Estratégia de Mercado e Atração de Talentos
O impacto destas recentes aquisições no cenário europeu é inegável, conforme Boto.
"Em termos de mercado, esta janela tem um pouco de impacto na Europa, de abrir ainda mais as portas do Flamengo para jogadores europeus. Eles estão vendo este tipo de jogadores vindo para cá e se interessam mais para vir."
Ele confirmou que, após estas contratações, "nomes importantes e conhecidos do futebol europeu que mostraram interesse em vir jogar no Flamengo ". Contudo, o clube manteve a cautela, evitando excessos que pudessem desequilibrar a equipe, pois "água a mais mata a planta".
A questão do Fair Play Financeiro foi abordada com um tom crítico. Boto defendeu que a prática é uma disciplina fundamental:
"Fair Play financeiro é algo que todos nós devíamos fazer na nossa casa, que é não gastarmos mais dinheiro do que temos".
Ele criticou a "competição desleal" de clubes que operam acima de suas capacidades financeiras e não honram seus compromissos, citando exemplos de dívidas não pagas há quase dois anos. O diretor apelou por uma ação mais incisiva da CBF, similar à da FIFA, que impede clubes de inscrever jogadores enquanto não quitarem débitos.
A renovação de Filipe Luís é outro ponto da pauta. Uma oferta foi apresentada ao jogador com o intuito de estender seu vínculo por "pelo menos por mais uma temporada ou, provavelmente, mais duas", demonstrando a confiança do clube nele, mesmo após a derrota para o Central Córdoba. A negociação tem se arrastado, mas a vontade mútua de permanência existe. Recentemente, Boto se reuniu com o representante do atleta em Portugal para discutir os termos.
Renovações Estratégicas e Desafios Financeiros
Boto revelou que Filipe Luís teve a oportunidade de deixar o Flamengo , mas optou por permanecer.
"Durante a semana passada, ele teve a possibilidade de sair do clube. Eu sei disto porque o presidente desse clube ligou para mim e perguntou quanto de dinheiro nós queríamos para liberar o Filipe Luís . Ao que respondi: 'isto não é um banco'. Nós não tínhamos qualquer vontade de vendê-lo".
Apesar de o clube interessado ter oferecido um valor "muito mais do que a multa que ele tem no contrato", o lateral "não quis ir, não queria deixar este projeto assim".
Quanto a Arrascaeta, que possui mais um ano de contrato, o diretor reiterou a filosofia da diretoria de reconhecer os profissionais que mais contribuem para o clube. Boto destacou que o uruguaio "está a fazer, talvez, a melhor temporada da carreira dele", mas vai além das qualidades técnicas, elogiando sua "mentalidade" e dedicação exemplar:
"Ele é um dos primeiros a chegar, um dos últimos a sair, e é este tipo de jogador que nós queremos no clube".
Tal postura será "premiada", provavelmente com uma renovação antecipada.
Por fim, a discussão sobre a possível vinda de Mikey foi revisitada. Boto esclareceu que a contratação dele "não teria nada a ver com a não-vinda do Samuel Lino, viriam os dois". Ele admitiu que o "timing" da primeira tentativa de compra pode ter influenciado a reação, sugerindo que uma chegada posterior, após as contratações de Saúl e Samuel Lino, poderia ter sido recebida de outra forma. O diretor minimizou a importância da reação externa, focando nas características do jogador e sua adequação ao clube, traçando um paralelo com a contratação de David Luiz pelo Benfica, que era desconhecido na época e se revelou um grande talento.
Visão de Jogo e Futuro no Futebol Brasileiro
Boto também fez um aparte sobre a preferência por campeonatos de pontos corridos em detrimento de formatos eliminatórios. Ele argumentou que sua visão foi "mal explicada ou mal interpretada", e que a escolha se baseia na maior previsibilidade:
"É muito mais fácil você programar e não estar dependente de fatores externos, de fatores que são normais no futebol, num campeonato de pontos corridos, do que numa eliminatória. Porque basta um dia ruim para pôr tudo a perder. Se temos um jogo ruim como tivemos, por exemplo, com o Central Córdoba, o que pode acontecer? Num campeonato de pontos corridos, é mais fácil controlar esses fatores."
Esta perspectiva reflete uma busca por estabilidade e controle na gestão esportiva.
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