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Athirson Abre o Jogo: O Que Realmente Aconteceu na Final da Copa do Brasil de 2004?

Por Redação Flapress em 07/09/2025 20:30

A ferida de 2004, que ainda pulsa na memória rubro-negra, foi revisitada com uma franqueza notável por Athirson. O ex-lateral-esquerdo, uma figura emblemática na história do Flamengo, trouxe à tona detalhes cruciais sobre a fatídica final da Copa do Brasil contra o Santo André, um episódio que permanece como um dos mais dolorosos "maracanaços" do clube. Suas recentes declarações, concedidas em um canal oficial, desvelam um cenário de bastidores que, até então, permanecia envolto em especulações.

O ano de 2004 marcou o retorno de Athirson ao Ninho do Urubu, após uma passagem pela Juventus da Itália. Contratado para reforçar o elenco, o lateral-esquerdo inicialmente encontrava-se na reserva, à sombra de Roger Guerreiro, que vivia um momento de destaque e havia sido peça chave na conquista do Campeonato Carioca. Sua reintegração ao time principal, contudo, seria abruptamente catapultada para o centro das atenções em um dos confrontos mais decisivos da temporada.

O primeiro embate da final, disputado no antigo Palestra Itália, viu Athirson emergir como figura central. Ao ingressar no segundo tempo, o jogador demonstrou sua capacidade decisiva, convertendo uma cobrança de falta que selou o empate em 2 a 2. Um resultado que, à primeira vista, parecia encaminhar o título para a Gávea, especialmente considerando o confronto de volta no Maracanã, onde um empate por 0 a 0 ou 1 a 1 seria suficiente para consagrar o Rubro-Negro diante de mais de 70 mil torcedores.

A partida decisiva, no entanto, reservou um desfecho amargo. Com o Santo André já em vantagem de 1 a 0, Athirson foi novamente acionado na etapa final, substituindo Roger. Contudo, o time paulista ampliou o marcador, concretizando um inesperado 2 a 0 e protagonizando uma das maiores zebras da história do torneio. A euforia antecipada deu lugar a um silêncio atônito no Maracanã, e a busca por explicações para o revés teve início.

Revelações Chocantes: Lesão e Excesso de Confiança na Final de 2004

Questionado sobre os pormenores daquela jornada desastrosa, Athirson não hesitou em apontar a sobreconfiança como um fator determinante. Mais do que isso, o ex-jogador fez uma revelação que adiciona uma camada dramática à narrativa: ele teria entrado em campo com uma condição física comprometida.

"Vamos analisar friamente: você joga no Flamengo; Santo André era time da segunda divisão; você traz o resultado para o Maracanã, eu fiz o gol lá no 2 a 2. 'Agora o resultado dentro do Maracanã é nosso, o empate é nosso'. Você já entra com a autoconfiança transbordando. E o time do Santo André tinha bons jogadores surgindo, depois vários foram para grandes clubes. E bem organizado. E aquela coisa, né? Para quem já vivenciou a nossa geração, sabe que quando o jogo não vai bem, a torcida começa a trazer aquela sensação de vaiar, e isso tira a confiança. E os caras fizeram o gol, e aí você fala: 'Pô, agora você vai correr atrás'. Então, ali foi um momento que eu acho que nós entramos... Eu estava até machucado, cara, não podia nem estar no jogo nesse dia. Então assim, ali acho que a autoconfiança trouxe esse resultado ruim pelo fato de achar que iria ganhar a qualquer momento."

A declaração de Athirson sobre sua condição física ressoa com particular intensidade. Na época, a imprensa não registrou qualquer impedimento ou dor muscular que o afastasse dos gramados. Curiosamente, o lateral havia se casado no Rio de Janeiro entre os dois jogos da final ? um compromisso agendado desde sua época na Juventus. Apesar da data, não houve lua-de-mel, e ele esteve em campo no dia seguinte, atuando pelo Brasileirão contra o Figueirense. Somente oito dias após a perda do título, foi divulgado que o jogador sofrera um estiramento muscular na coxa, lesão que o afastaria por aproximadamente um mês. Este cenário levanta questões sobre a gestão de sua saúde e a pressão para atuar mesmo sem plenas condições.

O Impacto das Distrações: "Oba Oba" e Perda de Foco

Além da questão física e da autoconfiança exacerbada, Athirson também apontou o ambiente extracampo como um elemento prejudicial à concentração da equipe. O ex-lateral descreveu um cenário de efervescência e distrações que permeou a semana pré-jogo, desviando o foco dos atletas da preparação essencial para uma decisão de tamanha magnitude.

"A semana toda, aquela coisa de você pegar ingresso, filas quilométricas na Gávea. E aí você fala: 'Pô, quem é que vai'? Você preocupado porque não tinha isso de vai ganhar tantos ingressos, não era assim. Você ganhava dois e depois brigava para levar mais. Imagina, você quer levar a família toda. Eu não estou falando só de mim, era com todos os jogadores. Aí você tinha que botar alguém lá na fila para entrar, aquela preocupação. Tirou o foco, você perdeu o foco ali. Aquela coisa do 'oba oba', Gávea lotada, cheio de diretores, amigos... É legal você estar com a torcida, mas não pode perder o foco."

A imagem de uma Gávea efervescente, com diretores e amigos circulando, enquanto os jogadores se preocupavam com a distribuição de ingressos para suas famílias, pinta um quadro de um ambiente que, embora celebratório, carecia da seriedade e do isolamento necessários para uma final. Essa "atmosfera de oba oba", como descrita por Athirson, sugere que a linha entre o apoio da torcida e a distração foi perigosamente cruzada, comprometendo a performance em campo.

O Legado de um Ídolo e as Lições de uma Derrota Histórica

Athirson, um produto das categorias de base do Flamengo , vestiu a camisa rubro-negra em 253 partidas, balançando as redes 37 vezes entre 1996 e 2004. Sua trajetória no clube o consolidou como um ídolo, a ponto de ser a inspiração na infância de outro grande lateral-esquerdo, Filipe Luís, durante seus primeiros passos no Figueirense.

As revelações do ex-lateral não apenas oferecem uma nova perspectiva sobre o "Maracanazo" de 2004, mas também servem como um lembrete perene sobre a importância da concentração, do profissionalismo e da gestão de expectativas, mesmo diante de um favoritismo inegável. A história do Flamengo é rica em glórias, mas também pontuada por lições extraídas de momentos de adversidade, como este, que continuam a ecoar e a moldar a cultura do clube.

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