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Acidente Ônibus Flamengo: Motorista Desaparecido e Falhas Reveladas
Por Redação Flapress em 05/11/2025 18:00
Passados nove dias do trágico tombamento do ônibus que transportava 44 fervorosos torcedores do Flamengo rumo à Argentina, o cenário ainda é de profunda incerteza. Enquanto alguns feridos permanecem hospitalizados, uma série de questionamentos cruciais persistem sem elucidação. A apuração da Polícia Rodoviária Federal (PRF) já apontou uma falha grave: o condutor do veículo não foi encontrado imediatamente após o sinistro. Além disso, evidências indicam que problemas mecânicos já haviam forçado uma substituição do coletivo no decorrer da viagem, levantando sérias dúvidas sobre a segurança e a responsabilidade.
Nossa equipe teve acesso exclusivo aos relatórios detalhados da PRF e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), além de colher depoimentos de vítimas que sobreviveram ao ocorrido. Paralelamente, aguardamos posicionamentos da empresa de transportes envolvida e do próprio Clube de Regatas do Flamengo , cujas respostas são fundamentais para esclarecer os fatos.
O Enigma do Motorista Desaparecido
O relatório da Polícia Rodoviária Federal, datado de 27 de outubro, às 15h40, descreve as condições climáticas no momento do acidente: chuva intensa e pista molhada. Contudo, nas "informações complementares", um dado alarmante chama a atenção: "condutor não localizado". Este documento foi encaminhado à Polícia Civil, que conduz as investigações. Em contato com a reportagem, a instituição informou que o motorista já prestou depoimento, embora sua identidade não tenha sido revelada publicamente: "O caso é investigado pela 90ª DP (Barra Mansa) e o condutor do coletivo já foi ouvido. O laudo pericial, elaborado pelo Instituto de Criminalista Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil, está sendo analisado. Agentes realizam diligências para esclarecer todos os fatos".
Entretanto, a narrativa oficial é contestada pelos torcedores presentes no ônibus. Uma das vítimas, que preferiu manter o anonimato, levanta uma suspeita grave: a empresa de transportes teria apresentado um motorista diferente à polícia do que aquele que efetivamente dirigia o veículo no momento do acidente.
Então, mas quem é esse motorista que foi localizado? Porque quem estava dirigindo o nosso ônibus era o Neto. Lá na polícia eles levaram o Lucas, dizendo que o Lucas que estava dirigindo, mas não era o Lucas que estava dirigindo
A reportagem questionou a Polícia Civil sobre a identificação do motorista que depôs ? se era "Neto" ou "Lucas" ?, mas até o momento não obteve um retorno conclusivo. A ausência de respostas alimenta a desconfiança e intensifica o mistério em torno da figura do verdadeiro condutor.
Precedente de Negligência: A Falha do Primeiro Veículo
Nossa equipe também procurou a empresa "WF Libotti Transportes Eireli", apontada no laudo da ANTT como a responsável pelo ônibus que levava os 44 rubro-negros. Tentativas de contato foram feitas por e-mail e telefone, além de uma mensagem por aplicativo para "Luiz", que os torcedores indicam ser um dos proprietários. Até o presente momento, a empresa não se manifestou. A ausência de esclarecimentos por parte da transportadora apenas agrava a percepção de falta de transparência e responsabilidade.
Eu quero saber aonde que ele (Neto) está. Teve gente que disse que o viu passando correndo com sangue no rosto, mas até agora, ninguém achou ele. A gente achou o Instagram dele, mas ele excluiu o Instagram, sumiu, ninguém acha
A viagem, que teve início nas proximidades do Maracanã, já havia sido marcada por um incidente preocupante. Ainda na região serrana do Rio de Janeiro, o primeiro ônibus, que transportava os integrantes das torcidas "Nação 12" e "Urubuzada", apresentou uma grave falha mecânica. Uma das rodas se desprendeu, e a inspeção revelou a ausência de diversos parafusos que deveriam fixá-la. Imagens obtidas pela nossa equipe confirmam a precariedade do equipamento, com a falta evidente de várias porcas.
Segundo os passageiros, a intenção inicial do condutor era simplesmente substituir a roda e prosseguir a jornada. No entanto, após a insistência dos torcedores, um segundo veículo foi acionado para dar continuidade à viagem. Foi neste momento que o ônibus da "WF Libotti Transportes Eireli" foi enviado, mas a fragilidade e a falta de segurança observadas no primeiro veículo pareciam se estender ao substituto.
A Angústia dos Sobreviventes e a Classificação Legal
O laudo da ANTT indica a torcida organizada "Fla Manguaça" como a contratante do serviço, com a verba para a viagem supostamente proveniente de doações de sócios do Flamengo . Um dos passageiros, em relato emocionante à nossa equipe, descreveu os momentos de pavor vividos durante o acidente:
No primeiro ônibus estava todo mundo naquela animação, conversando, o pessoal bebendo, aquela felicidade e tal. Aí, no segundo ônibus, todo mundo murchou, né? Pô, já tinha dado problema, aí já estava todo mundo sentado, tinha pouca gente em pé, já estava todo mundo murchinho. Quando eu vi que o ônibus começou a rodar, eu abracei o banco da frente, porque pensei que se o ônibus capotasse eu não iria ficar dando pirueta. E aí o ônibus virou para o lado onde eu estava sentada
A "Fla Manguaça" ainda não se pronunciou sobre o ocorrido. Qualquer manifestação da organizada será prontamente adicionada a esta matéria, buscando completar o panorama dos fatos.
Curiosamente, o laudo da Polícia Rodoviária Federal não aponta um fator determinante para o acidente do segundo ônibus, nem problemas técnicos específicos. Na seção de "responsabilização penal/administrativa", o incidente é classificado como "lesão corporal culposa", o que implica que não houve intenção de ferir ou matar. Contudo, essa classificação é veementemente contestada pelas vítimas, que enxergam uma dimensão mais grave no ocorrido.
Esse caso não é dano culposo, é doloso, porque ele está assumindo o dolo eventual de ter um acidente. O ônibus estava levando 44 vidas. Cara, podia ter morrido todo mundo ali. Tem noção que poderia estar todo mundo morto agora?
O Apoio do Clube e a Luta por Indenizações
De acordo com os relatos das vítimas, o Clube de Regatas do Flamengo tem oferecido suporte estrutural aos feridos, auxiliando na viabilização de cirurgias e consultas médicas. No entanto, os custos com medicamentos e outras necessidades diárias têm sido arcados pelos próprios torcedores rubro-negros. Alguns deles seguem internados, e uma campanha de arrecadação online foi iniciada para auxiliar nas despesas de recuperação.
Há relatos de que "Luiz", supostamente um dos proprietários da empresa de ônibus, solicitou as notas fiscais dos gastos com medicamentos para um possível ressarcimento. Contudo, os rubro-negros demonstram ceticismo quanto à possibilidade de receberem indenizações, dada a percepção de fragilidade financeira da transportadora.
Essa empresa quase não tem ônibus. Então os caras não têm nem dinheiro para ressarcir os danos. Como que eles vão ressarcir? Se é uma empresa grande, os caras vendem dois ônibus ali e pagam a indenização, tudo. Mas eles não têm nem como pagar porque não têm dinheiro
Nossa equipe procurou o Flamengo com questionamentos diretos: "O clube tem dado algum tipo de assistência às vítimas? Qual tipo de ajuda? Estrutural? Financeira? Os dois?"; e "Os ônibus das organizadas foram financiados pelo clube?". Até o fechamento desta reportagem, o Rubro-Negro não forneceu respostas. A ausência de um posicionamento oficial do clube mantém um vácuo de informações que é crucial para a compreensão completa deste lamentável episódio.
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